Meu nome é José Silveira Figueiredo. Tenho 71 anos. Moro em São Vicente, litoral de São Paulo. Sou aposentado. Fui metalúrgico por 37 anos. Tenho três filhos e sete netos. Estudei pouco. Mas sempre li muito. Estou terminando, esse mês, minha biografia. Sim, eu escrevi minha biografia. Deve dar um livro de pouco mais de 200 páginas. Vou publicá-lo em janeiro, mês do meu aniversário. Não vou atrás de editora. Vou pagar a publicação do meu bolso mesmo. Estou feliz. Nesse livro conto minha história, desde a infância, no interior da Paraíba, até os dias atuais, morando no litoral Sul de São Paulo. Aliás, vou mais longe, pois conto parte da história de meus avós e pais. Afinal, eu sou resultado deles. Publicarei mil exemplares e grande parte deles darei aos amigos e parentes. Não será uma trajetória de alguém que ficou milionário ou de alguém que tenha, ao longo da vida, ajudado a revolucionar o mundo. Não será nada disso meu livro. Eu conto nesse livro a história de um homem digno. Mesmo tendo pouca educação formal me tornei um exemplo para, pelo menos, três gerações. Tive uma vida vencedora como ser humano e chefe de família. Fui orgulho para os meus pais e para todo o restante da família, incluindo avós, tios e primos – além de parentes mais distantes que de alguma forma acompanharam minha história. Sou um homem comum, mas que não fez de sua vida rotineira um passaporte para a mediocridade. Sempre tive 1,79 m de altura. Sempre pesei entre 75 e 85 kg. Mas a idade chega para todo mundo e diferenças acontecem. Tenho hoje 1,76 m e peso 93 kg. Acho engraçado essa coisa de os velhos encolherem na altura e crescerem na largura. Coisas da vida, né? Acho que comecei a engordar quando minha esposa faleceu, 10 anos atrás. Eu e ela fazíamos exercícios diários – mas sem ela passei a não ver mais graça em fazer exercícios e virei um sedentário. Atualmente minha principal atividade é escrever. Ainda tenho muito cabelo na cabeça, embora eles estejam brancos como neve. Ando sempre barbeado, coisa que aprendi com meu papai. Ele dizia que estar barbeado era o primeiro mandamento de um homem decente. Bem, conheci em minha vida muitos homens decentes que não se barbeavam com freqüência. E conheci muitos homens barbeados que nunca valeram o feijão que comiam. Portanto, me atrevo dizer que papai se enganou. Mas como aprendi, também com ele, que um pai nunca se engana em relação ao filho – prefiro dizer que o mundo mudou a que levantar a hipótese de um erro de papai. Eu só estou escrevendo essas palavras, porque meu neto é jornalista e disse que todo livro, hoje em dia, tem que ter um release. Ele me explicou que essa palavra americana serve para apresentar a história do livro. Disse que assim o livro vende mais. Eu expliquei para ele que meu livro não será vendido e apenas servirá como presente para amigos. Mas meu neto insistiu e eu sei que não adianta falar com um rapaz de 20 anos de idade que ele não te escuta. Eu também já tive essa idade e sei como são esses jovens. Bem, era isso que eu queria dizer. Acho que poucas pessoas que lerão esse texto, o chamado release, lerão meu livro. Mas eu só queria dizer que a vida é para ser vivida e não importa os desafios, ao longo da caminhada, existe sempre uma linha de chegada ao final. Cada um deve ter em mente que não importa a posição que você cruze nessa linha de chegada. O que importa mesmo é chegar até ela com a cabeça erguida. Todos que cruzam a linha de chegada dessa maneira chegam em primeiro lugar. Todos se consagram vencedores. - Paulinho, veja se esse texto está bom – por favor. Mas quero te dizer, mais uma vez, que acho ele totalmente desnecessário. A vida, Paulinho, não cabe em palavras. Um dia você vai entender isso. Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
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