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Opinião
23/10/2008 - 05h45
Vamos dividir o país em dez!
Rodrigo Constantino - Parlata
 

O nacionalismo é a doença infantil da humanidade.” (Albert Einstein)

Estou acostumado a observar a seguinte reação quando apresento dados sobre os efeitos positivos das reformas liberais em diversos países diferentes: “Mas você tem que levar em conta o tamanho desses países vis-à-vis o tamanho do Brasil”. Não obstante o incômodo detalhe de que essa mesma turma cita países pequenos quando é para defender as “maravilhas” do modelo de welfare state, apelando para dois pesos e duas medidas, resta perguntar: tamanho é documento? Existem vários países pequenos com povo miserável, como Cuba e Haiti, e existem países grandes com povo pobre também, como Índia e China. Por outro lado, inúmeros países pequenos possuem um povo rico, como Suíça e Cingapura, e países grandes também, como Estados Unidos e Austrália. Será que o tamanho é tão relevante assim?

Em primeiro lugar, devemos perguntar se o que importa ainda é o bem-estar dos indivíduos. O coletivismo nacionalista, que coloca a “glória da nação” acima dos interesses individuais, é um câncer responsável por infindáveis desgraças ao longo dos tempos. Não é nada muito novo, e o economista alemão Frederich List já era um ferrenho defensor dessa postura no século XVIII, influenciando a mentalidade que foi explorada por Hitler tempos depois. O mercantilismo é fruto dessa crença nacionalista também, e sei que pode parecer uma enorme heresia o que vou dizer agora, em um mundo ainda dominado por tal ideologia, mas ainda assim é a mais pura verdade: nações não praticam comércio! Quem pratica comércio, realizando trocas de bens e serviços, são indivíduos de diferentes países, através de empresas. Quando alguém diz que o Brasil exportou alguns bilhões de dólares para a Europa, o que se está dizendo é que empresas brasileiras venderam esse montante para empresas européias. Isso é bastante óbvio, mas infelizmente costuma ser ignorado com freqüência. E esse detalhe faz toda a diferença do mundo.

Desde Adam Smith e David Ricardo, sabemos que o desenvolvimento econômico é resultado dos ganhos de produtividade advindos da divisão de trabalho. Um indivíduo sozinho, tendo que produzir os bens que demanda, levaria uma infinidade a mais que um grupo bem maior com vários especialistas, cada um se dedicando a uma parte das tarefas. Quanto maior o tamanho do mercado, maiores as oportunidades para ganhos de produtividade através da divisão de trabalho. Mas para tanto, não é necessário viver num país muito grande. Basta contar com o livre comércio entre os indivíduos de diferentes nações. O resultado é o mesmo. As nações são o somatório dos indivíduos que fazem parte dela. A mentalidade nacionalista, típica da postura tribal, ignora este fato, e adota uma postura de “eu contra eles”, com base apenas na característica do local do mapa no nascimento. Transformam a abstração num ente concreto, e a nação passa a ter interesses e desejos próprios (sabe-se lá por quem definidos), enquanto os indivíduos são encarados como meios sacrificáveis para estes fins. Isso leva à crença de que exportar é bom, mas importar é ruim, mantra do mercantilismo. Por reductio ad absurdum, esta lógica levaria à defesa da subsistência no nível individual, já que importar produtos feitos por outros indivíduos seria prejudicial.

Em tempos de guerra, o inimigo parte justamente para o ataque ao comércio do povo alvo, tentando impedir seu acesso aos produtos de fora. Derruba pontes, tenta fechar a rota marítima, tudo para inviabilizar o livre comércio entre o inimigo e o mundo exterior. Não é extremamente curioso que o governo do próprio país, em tempos de paz, adote a mesma postura dos inimigos em guerra? Afinal, o protecionismo comercial é exatamente isso: dificultar o acesso aos mercados estrangeiros, com a desculpa esfarrapada de proteger empregos locais. Barreiras alfandegárias, subsídios que distorcem o mercado, política de cotas para importação, tudo isso é sinônimo de menos livre comércio, o desejo de todo inimigo em guerra. Mas é a postura do próprio governo nos tempos de paz! Tudo possível pela mentalidade nacionalista tacanha, que passa por cima dos interesses verdadeiros dos indivíduos.

Voltando à questão inicial, sobre o tamanho das nações, fica mais claro agora porque o ponto não é fundamental para a prosperidade do povo. Cingapura é um país pequeno, mas possui um ativo comércio com o resto do mundo, sem preconceitos contra a importação. É também um país com um povo rico. Já a Coréia do Norte, isolada do mundo, está protegida da “exploração” do comércio internacional, mas tem um povo totalmente miserável. O tamanho não é crucial, mas a abertura comercial sim. Se o problema do Brasil é seu tamanho continental, como alguns alegam, então a solução parece muito simples: dividir o país em dez! O número é totalmente arbitrário e irrelevante aqui. Pode ser oito, ou quinze. A questão é deixar claro que a desculpa do tamanho para impedir mais livre comércio é fajuta. Se fosse o caso, então bastava dividir o país, seguindo o princípio liberal de direito à secessão.

Afinal, queremos uma nação enorme e com um povo pobre, ou queremos indivíduos com mais liberdade e prosperidade, independente da nacionalidade? Em vez de ser o gigante eternamente adormecido, não seria melhor ser vários anões acordados e ricos? Não vamos esquecer que Davi derrotou Golias...


Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfólio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog (rodrigoconstantino.blogspot.com) para a divulgação de seus artigos.

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