Na semana passada um idiota matou sua ex-namorada, aqui em São Paulo. O caso teve repercussão nacional e internacional – todos já sabem. Lindemberg Alves matou Eloá Cristina Pimentel, depois de mantê-la refém, na sua própria casa, por mais de cem horas, em Santo André, município da Grande São Paulo. Ele deu um tiro na cabeça dela. Esse cara disse que amou muito a menina. Mas quem ama não mata. Ou mata? Eu não sou o homem mais indicado do mundo para falar de namoro. Todos meus namoros deram errado. Mas eu sou o homem mais indicado do mundo para falar sobre amor. Amei muito ao longo da vida. Muito mesmo. Mas eu nunca pensei em matar ninguém. Não sou louco. Não sou mau-caráter. No entanto, dizem que o tal Zé Mané também era um rapaz bom, trabalhador e educado. Gente assim não vira pilantra da noite para o dia. Ou vira? O palhaço tinha sete anos de diferença de idade para a garota. Até aí nenhum problema, eu acho. Pelo menos, eu já namorei garota com nove anos de diferença e isso não trouxe nenhum problema para mim e nem para ela. Mas o babaca começou a namorar com a menina quando ela tinha apenas doze anos de idade e ele já dezenove. Poxa, mas quem sou eu para julgar, pois ela concordou e os pais dela também. Nunca ninguém assistiu uma história de amor como essa. Ou assistiu? As mais de cem horas foram um filme de terror. Mas filme é ficção e com a ajuda da TV ao vivo, do rádio, dos jornais e da internet – o evento tinha tudo para terminar com um final feliz. Quando tudo acabasse, todos sairiam com seus 15 minutos de fama, aqueles apregoados pelo Andy Warhol, e a vida continuaria. Nada daria errado num roteiro tão emocionante. Ou daria? No entanto, Eloá não verá a chegada do verão. Eloá não passará o réveillon na praia. Eloá nunca mais discordará ou concordará de seus pais. Eloá nunca mais se importará se a roupa está combinando ou não. Eloá não irá mais namorar, casar e nem ter filhos. Eloá nunca completará dezesseis anos. Eloá nasceu, cresceu e viveu. Eloá nunca mais. Eloá começa agora a virar passado travestido de história. Quem matou o amor eu não sei, mas garanto que Eloá não foi. Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
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