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Opinião
24/10/2008 - 11h25
Triângulo das Bermudas
Maria Lúcia Victor Barbosa - Parlata
 

Nas lutas travadas pelo poder, sejam elas de natureza econômica, política ou individual, ressalta a capacidade de empregar a hipocrisia, a mentira, a traição, a deslealdade, a violência. Mas, é na arena dos embates políticos, que esse agir se torna público.

Nestas eleições municipais chama atenção a exacerbação da torpeza. Destila-se como nunca o veneno da perfídia. Tenta-se de maneira vil enganar os eleitores com intrigas e maledicências sobre adversários. Em manobras asquerosas os algozes se transformam em vítimas. A religião é usada como recurso para obter comiseração social e a santificação dos libertinos.

Sempre foi assim, dirão, aqui e alhures, em todos os tempos e em todas as sociedades. Entretanto, parece que no Brasil chegamos ao ápice da degradação moral, que na política se manifestou através de constantes escândalos e que agora ressurge nas campanhas.

No Executivo, o episódio protagonizado por Waldomiro Diniz foi o início do ininterrupto espetáculo da desfaçatez sempre impune que passou por caixas dois, dólares na cueca, falsos dossiês e tudo mais que num país com outra cultura cívica não seria tolerado.

De modo também indigno se viu, com honrosas exceções, um Congresso subalterno e aviltado por “mensalões” e “mensalinhos”, descaramentos e falcatruas de toda espécie. Entretanto, a sociedade que deveria se enojar reconduziu ao poder “mensaleiros”, “sanguessugas”, trambiqueiros da pior espécie, o que leva a perguntar se vivemos numa canalhocracia onde eleitos e eleitores se merecem na reciprocidade malandra do jogo politiqueiro.

Na esteira desse processo de degradação, onde qualquer resquício de ética desapareceu, as campanhas municipais vão se processando. Entre ataques e baixezas havidos nos quatro cantos do país destacam-se por sua importância, inclusive, como os maiores colégios eleitorais e palcos que prenunciam os embates eleitorais de 2010, o chamado “Triângulo das Bermudas”: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Em Belo Horizonte, o jovem Leonardo Lemos Barros Quintão (PMDB), “azarão” que passou para o primeiro turno e está à frente do candidato Márcio Lacerda (PSB) fabricado pelo governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT), troca farpas com o adversário. A provável vitória de Quintão enfraquecerá o governador mineiro, cujas pretensões de concorrer à presidência da República em 2010 são notórias. Enfraquecido sairá o PT depois de um domínio de anos em Belo Horizonte, “santuário” mais importante do partido. Ficará provado mais uma vez que o presidente Lula da Silva, que deu seu aval a união PSDB/PT, não elege postes, como se pensava que faria, nem se importa mais com a “herança maldita”.

No Rio, a inesperada ida para o segundo turno do candidato do PV, Fernando Gabeira, que concorre com o ex-tucano e agora peemedebista Eduardo Paes, aquele que chamou Lula da Silva de chefe da quadrilha e suspeitou do enriquecimento rápido do seu filho Lulinha, desencadeou uma guerra suja onde só falta dizer que Gabeira põe maconha na merenda das criancinhas. Detalhe, Paes é apoiado pelo PT.

Mas nada simboliza tão perfeitamente o modo PT de fazer politicagem do que a eleição em São Paulo, na verdade, um interessante estudo de caso que ilustra a transformação da política em politicagem muito suja.

Naquele cenário, a petista Marta Suplicy (ou Favre ou Wermus), que ganhou o apelido de Martaxa por ter se excedido em taxações quando era prefeita, e que foi autora do famoso conselho “relaxa e goza” aos atormentados passageiros que sofriam nos aeroportos com o apagão aéreo, agora bateu seu recorde quando indagou, numa insinuação malévola, se o adversário Gilberto Kassab (DEM) é casado e tem filhos. Imagine-se se este retrucasse perguntando se o exótico Supla continua solteiro e sem filhos. Seria processado e no mínimo taxado estridentemente de preconceituoso.

Naquela costumeira tática de inverter a situação, a petista se colocou como vítima de preconceito e disse que não sabia sobre a venenosa insinuação. Ela mostrou, assim, ser exemplar cópia do presidente da República, que nunca sabe ou vê nada e se coloca como eterna vítima, apesar de ter sido eleito na quarta tentativa de chegar lá e reeleito.

Mas além da sordidez habitual da politicagem, não podia deixar de aparecer outra, digamos, arma de campanha: a violência. Em 2006, quando concorria à presidência Geraldo Alckmin, um inusitado terrorismo do PCC deixou os paulistanos apavorados. Agora, uma estranha manifestação de policiais civis, armados, politizados, incitados pela CUT e pela Força Sindical, que invadiu a área de segurança em frente do Palácio dos Bandeirantes, culminou em embates com a Polícia Militar, que cumpriu com seu dever de proteger o Palácio e o governador. Em que pesem as razões dos policiais civis que reivindicam melhores salários, esse ato violento e insuflado pelos apoiadores de Marta Suplicy não deixa de prenunciar o que virá em 2010. Os futuros adversários do PT que se cuidem.


Nota do Editor: Maria Lúcia Victor Barbosa (mlucia@sercomtel.com.br) é graduada em Sociologia e Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Ciência Política pela UnB. É professora da Universidade Estadual de Londrina/PR. Articulista de vários jornais e sites brasileiros. É membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Londrina e premiada na área acadêmica com trabalhos como "Breve Ensaio sobre o Poder" e "A Favor de Nicolau Maquiavel Florentino". Criadora do Departamento de Desenvolvimento Social em sua passagem pela Companhia de Habitação de Londrina. É autora de obras como "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto: A Ética da Malandragem" e "América Latina: Em Busca do Paraíso Perdido".

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