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Crônicas
25/10/2008 - 12h07
Doença terminológica
Pedro J. Bondaczuk
 

As palavras, como as pessoas, têm um ciclo vital definido: nascem, crescem e morrem. Ao contrário dos seus criadores, porém, nunca são sepultadas. Permanecem, como “fantasmas”, nos dicionários, aumentando apenas o seu volume, sem qualquer utilidade ou uso. São, o que os gramáticos convencionaram chamar, “arcaísmos”.

Qualquer pessoa pode criar palavras novas e tentar incorporá-las ao acervo do idioma do seu país. Algumas dessas criações, contudo, mal chegam a nascer e logo morrem, porque não “pegam”. Ou seja, apenas seu “inventor” (e a história nunca registra quem foi) as utiliza e, dessa forma, o novo termo não se sustenta e logo desaparece.

Outras, porém, chegam a virar modismos e não tardam a conseguir acesso aos mais atualizados e consultados dicionários onde, não raro, obtêm até destaque. Os gramáticos até chegaram a estabelecer uma regra (que não vejo ninguém utilizar) para distinguir um neologismo de uma palavra antiga, porém desconhecida da maioria.

Recomendam que este venha “sempre” grafado entre aspas. Sou contrário à criação de novas palavras (salvo comprovada necessidade), embora admita que o idioma seja dinâmico e esteja sempre se renovando. Oponho-me, por exemplo, a essa infinidade de jargões existentes tanto em teoria das comunicações quanto nos vários novos ramos de ciência que surgem a todo o momento (como a informática, por exemplo, que vem acompanhada de imenso séqüito de neologismos de enlouquecer qualquer estudioso do idioma).

Defendo a utilização correta das palavras que já existem. Vou mais longe: sou a favor que sejam utilizadas, sempre, aquelas mais conhecidas pela população (diria que são umas duas mil, se tanto). Escrever é um ato de comunicação, e mais complexo do que pode parecer aos desavisados.

Mas para nos comunicarmos bem, temos, sobretudo, que ser entendidos por “todos”. Se alguém não entender alguma coisa que escrevemos, por causa de uma eventual mania de esbanjar erudição (e muitos o fazem mesmo não sendo eruditos), fracassamos rotundamente em nosso texto, por mais sonoro e bem-arranjado que ele nos pareça.

Roman Jakobson, um dos maiores comunicadores do século passado (bastante estudado nos cursos de Jornalismo), escreveu a respeito: “Os termos novos são, muitas vezes, a doença infantil de uma nova ciência ou de um ramo novo de uma ciência. Prefiro evitar hoje termos novos em excesso. Quando discutíamos problemas fonológicos na década de 1920, eu próprio introduzi muitos neologismos e depois, por acaso, livrei-me dessa doença terminológica”. Nem todos, no entanto, se livram dessa tola compulsão. Infelizmente!

Por exemplo, que a Filosofia é a “mãe” de todas as ciências, disso não há a menor dúvida. O próprio significado da palavra, “estudo da vida”, indica isso. Originou-se da curiosidade do homem primitivo, ávido por saber quem era, onde estava e para onde iria. Aliás, estas três questões, ainda hoje, em pleno Século XXI, não foram respondidas de forma cabal, de sorte a não gerarem a mínima dúvida.

No princípio, a Filosofia era simples, acessível a todas as pessoas dos vários clãs e não tinha “donos”. Até que alguns espertalhões se apropriaram dela e complicaram tudo. Criaram uma série de mirabolantes teorias, que se conflitavam umas com as outras; incorporaram jargões inteligíveis apenas para uma minoria de “iniciados” e a “mãe de todas as ciências” deixou de ser popular. Afinal, ser “filósofo” conferia (e ainda confere, na verdade) status.

E nos dias de hoje, ela se complica, mais e mais, e com isso, perde sua função prática. Como me pode ser útil aquilo que não entendo? Não pode! Fernando Pessoa resume em três palavras o que deveria se constituir na verdadeira Filosofia: trabalho, esperança e amor (no sentido lato do termo).

Escreve, a propósito: “Trabalhar com nobreza, esperar com sinceridade e enternecer-se com o homem: esta é a verdadeira Filosofia”. Esta, pelo menos, foi a origem da “mãe” de todas as ciências. O resto... são quinquilharias que podem, perfeitamente, ser descartadas, sem que façam falta a quem quer que seja. Comunicadores de todos os tipos: que tal nos livrarmos dessa tola e desnecessária “doença terminológica”?! Afinal, comunicar sempre foi, é e será se fazer entendido. Ou estou equivocado?


Nota do Editor: Pedro J. Bondaczuk é jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos). Blog “O Escrevinhador” – pedrobondaczuk.blogspot.com.

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