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Crônicas
26/10/2008 - 10h23
Acordei espirrando e sem inspiração
Seu Pedro
 

Com tanto calor, me aventurei a dormir sob a janela aberta. As correntes de ar, tal qual ondas de um mar, faziam ondas, ora mornas, ora frias, sobre meu corpo, de peitos a mostra. Invadiu-me a cabeça uma oscilante dor, que não havia melhoral que a melhorasse de imediato. Os espirros me fizeram levantar, olhar o relógio ainda de madrugada, pensar no computador, que liguei. E a notícia principal dos sites era a morte de Eloá, a menina vítima de um tresloucado seqüestro e de uma operação de negociação em que o negócio terminou em morte. Tudo negativo em que o positivo, no termômetro, era o calor. Nem a frieza do atirador, que também feriu Nayara, conseguia refrescar o ambiente. Ao contrário, me aquecia a revolta por estar em mundo violento. “No mundo de antes não havia violência?”, perguntei aos meus botões, que ficaram calados! Talvez não houvesse a rapidez da comunicação. E a quase totalidade do que acontecia no tempo da vovó não chegava ao conhecimento público.

Abri o Word e tentei ter uma idéia. Concatenava um texto, e nada. Eu estava igual às páginas da Bíblia que separam o Antigo e o Novo Testamento: em branco, sem mensagens a passar. O que escrever para ter pretexto de torrar a paciência de alguns internautas? Destes, que não gostam de receber crônicas pelo e-mail. Sabia que deveria escrever, também, para satisfazer outros usuários de Internet, dos que solicitam a inclusão de seus endereços eletrônicos. Tempo de rapidez diferente do tempo da vovó, em que só havia a máquina de escrever. Para receber alguma mensagem romântica, a moça tinha que ir ao portão esperar carteiro. Namorava um e esperava outro. Época em que um namoro durava um ano e que o noivado era apenas apresentação de compromisso, um projeto em que não havia o pré-teste de rigidez do material, mas a construção do amor era sólida. Durava mais de meio-século, eram muitas as festas de “Bodas de Ouro”. Hoje, com todos os pré-testes, qualquer pretexto faz o amor desabar.

E a cada espirro, conseqüência da janela aberta, eu buscava em minha imaginação, que parecia estar adormecida, a inspiração para escreve o texto. Não havia. O único que eu conseguia lembrar era a dor da família de Eloá, notícia já tão explorada pelos comunicadores, que não sobrou nenhuma novidade que eu pudesse gastar em uma crônica. Falar sobre urânio? O “Greendólar?”. Já esgotara o tema e o irradiara para o Mundo. A moeda americana é verde e compra a paz ou promove a guerra e até a caça ao urânio. Daí a nova denominação: “Greendólar”. A inspiração não me aparecia, mas a espirração persistia como uma expiação. E tome chazinho para dentro, e a alimentação do meu burro de estimação ia sendo consumida em forma de chá, por mim que, naquela noite, emburrara. Cada um tem seu animal preferido. Tem gente que cria leão, mesmo sendo símbolo da mordida do imposto de renda. Só rendeira cearense clandestina não paga imposto. Eu crio um burro no quintal, me satisfaço com ele e esqueço os burros virtuais.

Mas, com toda exploração feita pela mídia, o assunto do dia é Eloá, que escolheu o namorado errado. Um namorado que não a namorava, pois o namoro é um início de amor. Amor não mata, nem com estilingue: ele deixa o pássaro voar. Quem ama não atira pedras e nem rosas, a não ser que antes tire os espinhos. Quem ama prende amada no paraíso, e não em um apartamento cercado de paredes de cimento. E ali o amor me parece não existir, e também nenhuma forte emoção justifica. O mais explicável é a falta de capacidade de Lindenberg em conquistar um novo amor. O amor é uma construção a dois, se falta um dos construtores a parede não sobe, e o amor, tão usado como desculpa em uma situação trágica, nunca existiu, não cabe a ele a culpa. Quantas ainda terão o fim trágico de Eloá? Serão quantas não consultem e atendam os conselhos dos pais, que não consultem a não permitam o bom-senso falar, que queiram ser adultas sendo ainda crianças. A lembrança de Eloá ficará com o Lindenberg, o atormentando até a morte!


Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

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