O Brasil é o país do futuro. Stefan Zweig, um dos grandes intelectuais do século XX acreditava nisso e, quando viu a ameaça nazista se espalhar pela Europa, resolveu vir morar em Petrópolis. E se suicidou quando viu a aproximação do governo brasileiro com o nazismo. O povo brasileiro é culpado? Não. Qualquer estudante de nível médio sabe que um dos erros mais graves em um texto é a generalização indevida. Se uma menina se torna prostituta, se sua mãe é prostituta, isso não quer dizer que todas as filhas e irmãs serão prostitutas. Quando Arnaldo Jabor generaliza dizendo que “brasileiro é babaca” tira a credibilidade de seu texto, tornando-o indigno da boa imprensa e do bom jornalismo, jogando-o no grupo da imprensa marrom e do pastiche. Quando ele diz que Lula é “um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari” revela a incapacidade de fazer uma leitura serena e racional da realidade, revela muito mais o grande preconceito que uma “pretensa elite” tem contra a população mais pobre. Se ele saiu do nordeste, com uma mão na frente e outra atrás e hoje é convidado para falar nas mais respeitadas universidades e presidir reuniões com os mais importantes líderes mundiais, isso mostra que, ou é muito inteligente ou todos os outros que o convidam são muito burros. Qual é a maior contribuição de Jabor para a transformação do Brasil? Ser comentarista da Globo? Será que ele ganha mais que o Didi, o Ratinho ou o Datena? A jornalista representante da BBC no Brasil, afirmou em uma entrevista, que hoje o Brasil é pautado na imprensa européia, muito mais pelos acertos que pelos erros: a redução da mortalidade infantil e da aids, da dívida externa; a expansão do ensino, a melhoria da qualidade de vida para a grande maioria do povo brasileiro, a redução das desigualdades sociais etc. Há muitos problemas a serem solucionados, fiscalizados e debatidos; hoje, alguns dizem que há mais corrupção porque o governo dos trabalhadores se tornou o telhado de vidro que todos querem quebrar e para isso vale tudo; nada é jogado para baixo do tapete. Na época da ditadura a imprensa foi proibida de noticiar a meningite. Poucos sabem, mas quando o PSDB dirigia a Prefeitura de São Paulo, havia uma velada proibição à citação de Paulo Freire em qualquer material de orientação curricular e de formação de professores. Nessa época, Paulo Freire já era o educador brasileiro com o maior número de referências em publicações no exterior. Grande parte da pretensa elite tem vergonha de suas origens, baixa auto-estima, como revela o texto de Jabor. Somente tem valor o que vem de fora. Uma maneira de dominar o outro é destruir o conceito que o outro tem de si próprio. Sartre já dizia: “o inferno são os outros” porque a imagem que temos de nós mesmos, quase sempre é formada pelo que os outros dizem de nós. Ele afirma que “Brasileiro é bobalhão. Fazer piadinha com as imundícies que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada.” É um modo de ver. Acho que é uma qualidade, é não se deixar abater e dar a volta por cima. É relativizar. Eu me lembro que, quando perguntaram ao presidente Figueiredo o que ele faria se ganhasse o salário mínimo e ele respondeu que daria um tiro no ouvido. No entanto, muitas pessoas mantém suas famílias com essa renda. Grande parte das grandes construções só existem pelo trabalho daqueles que ganham salário mínimo. Por isso, quando ele diz que “Brasileiro é vagabundo por excelência” fica ainda mais claro o seu preconceito contra o povo e revela que, ou não se sente brasileiro ou também é vagabundo. Ele diz que “Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como ’aviãozinho’ do tráfico para ganhar uma grana legal.” Isso pode ser verdade e revela uma grande tragédia porque, de tanto trabalhar e ser explorado quando se é honesto, de não ter o que comer mesmo trabalhando, de cansar de ouvir os filhos pedirem o que a TV anuncia e de não poder atender, sentindo-se como um zero à esquerda, a pessoa perde a crença no trabalho honesto. Quem é que emprega? Quem são os donos dos meios de comunicação? Ele diz que: “Se a maioria da favela fosse honesta, já teria existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora, porque podem matar 2 ou 3 mas não milhares de pessoas.” Parece que ele, como jornalista não lê notícias e não vê as relações entre o tráfico e aqueles que deveriam proteger o povo. Uma pessoa de classe média, quando se vê ameaçada, pode mudar para outro lugar, mas o “povão” não pode fugir das ameaças, preso aos vínculos de trabalho e ao lar que construiu com o trabalho de toda uma vida. Então, é uma atitude inteligente repassar a outros um texto que o agride pessoalmente? Se você recebe uma ordem e obedece sem questionar, mesmo que o texto o agrida e não se fundamente em argumentos racionalmente sustentáveis, que espécie de pessoa é você? Eu sou brasileiro e sei que temos muito problemas, inclusive porque a minoria que sempre esteve no poder, sonegou os direitos da maioria: à educação, à saúde, ao lazer, à moradia decente, ao direito de se expressar. Não estamos no melhor dos mundos mas vemos uma luz no fim do túnel. Chega do discurso rancoroso do Jabor e de toda essa turma que está perdendo “a boquinha”. Agora, triste é ver que muitos pobres, pensam com a cabeça da classe dominante e não com a própria cabeça. Mas vamos dar a volta por cima e viver a vida com alegria porque vivemos numa das regiões mais lindas do mundo. Rui Alves Grilo ragrilo@terra.com.br
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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