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Crônicas
27/10/2008 - 08h00
Ciccillo e Eu
Paulo Nathanael Pereira de Souza
 

Conheci o Ciccillo de um modo um tanto quanto dramático. Ocupava eu a Secretaria de Educação e Cultura de São Paulo, na década de 70, quando vieram me dizer que, na ante-sala estavam o Armando Sodré e Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo. Recebi-os e me deparei com uma figura “sui generis”: apesar de riquíssimo, apresentava-se como um homem comum, revestido por um amassado costume de lã cinza. Mas, o que me fascinou, foi a expressão de seu rosto: olhos meio esbugalhados por detrás dos óculos antiquados de aro de tartaruga, um meio sorriso nos lábios e uma indisfarçável tristeza na fisionomia. Estavam vindo do gabinete de um Secretário de Estado, onde o Ciccillo fora pedir apoio financeiro para a Bienal seguinte, e acabou levando um sonoro não. Ciccillo tomou a palavra: precisava de apoio governamental, eis que todas as Bienais até ali tinham sido financiadas do seu bolso. E agora estava ameaçada de não acontecer. E pôs-se a chorar.

Sem nada prometer, conversei com o prefeito e formulei um convênio entre a Prefeitura e a Fundação Bienal, que ainda hoje, está em vigor. Assim se viabilizaram as Bienais que se seguiram. Apenas foram impostas ao Ciccillo criar-se um Conselho de Artes para dividir com ele a responsabilidade pela organização, e a Prefeitura teria na diretoria da Fundação, alguns cargos. Difícil foi convencê-lo a aceitar a divisão. Acabou cedendo com a condição de não nomear artistas para o Conselho (“eles não entendem de administração!”).

Esses episódios marcaram o início de uma amizade, que duraria até sua morte. Em 1975, Ciccillo me fez o convite: assumir a superintendência geral da Fundação e ocupar o seu lugar. Estava se afastando em razão do agravamento de uma enfermidade. Aceitei o desafio e passamos a formar um trio: ele, o Neco, seu secretário – Manuel Esteves Jr. – e eu, que até então nada entendia de Bienais.

Nos almoços das terças-feiras, convivi com artistas, escritores, políticos, jornalistas, críticos de arte, como: Gilberto Freire, Sérgio Buarque do Holanda, Volpi e tantos e tantos mais. Quanto mais o conhecia, mais o admirava, por sua capacidade empreendedora.

A primeira Bienal ocorreria em 1951, com o auxílio inestimável de Luiz Lopes Coelho e de Yolanda Penteado. Foram expostas 1.800 obras, assinadas por artistas de 21 países, tudo por conta do Mecenas. De lá para cá foram muitas as Bienais. Para elas, Ciccillo adquiriu obras célebres, que por aqui ficaram, como quadros de Picasso, Matisse, Modigliani e outros, que lhe custaram milhões de dólares. As Bienais muito contribuíram para a circulação dessas modalidades artísticas, popularizando pintores como Portinari, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Panceti, Volpi, entre outros, no exterior. Na sua proverbial modéstia, dizia Ciccilo, quando perguntado, por que criara as Bienais não sendo artista nem crítico. “Não entendo de arte. Não é meu setor. No fundo, no fundo, sou um acadêmico. Apenas compreendo a evolução da arte”.

Por isso tudo e muito mais, que, como Presidente do CIEE - Centro de Integração Empresa-Escola, organizei, em colaboração com a Fundação Bienal, a mostra comemorativa dos 30 anos do seu falecimento, e que se revestiu de um enorme sucesso, entre os dias 04 e 26 de setembro passados.


Nota do Editor: Paulo Nathanael Pereira de Souza é doutor em educação e presidente do Conselho de Administração do CIEE.

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