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28/10/2008 - 10h09
A produção cultural em zonas de conflito
Rui Alves Grilo
 

Promovido em São Paulo pelo Itaú Cultural e pelo Grupo Cultural AfroReggae, o Antídoto - Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito reúne convidados internacionais e promove shows, peças, lançamentos de livros, debates e gastronomia.

Todo mundo já deve ter ouvido uma história de um sujeito da periferia de um grande centro urbano que, fã de cinema, arrumou uma garagem e começou a exibir filmes para o bairro. Ou de grupo de amigos numa ocupação de sem-teto que, apaixonado por livros, decidiu montar a sua própria biblioteca, disponibilizando para a rapaziada gibis a obras completas de Machado de Assis.” (*)

De centro financeiro do Brasil, a Avenida Paulista vem se transformando num grande pólo e vitrine da cultura. Lá estão o MASP, Centro Cultural do Sesi e mais de 20 espaços culturais importantes. Há três meses deixamos de realizar uma atividade porque a exibição de um filme para 600 pessoas custava vinte e cinco mil reais. Assim, fazer uma produção na Paulista requer muita articulação porque sempre tem muita repercussão. Veja o que diz Gaspar, do Grupo Z’África:

“Tenho orgulho de ser marginal, mas não sou criminal. Então, no limite da marginalidade e da criminalidade a arte é necessária porque é ela quem mantém o diálogo. É a única forma de’u poder estar aqui na Avenida Paulista, dentro do centro financeiro do Brasil podendo captar e conversar com pessoas que têm acesso aos caras da grana que podem ajudar nossos projetos. Em vez de chegar revoltado, vou dialogar. Então, a arte nos oferece e permite isso. Tenho uma poesia em que falo: “Venho do mocambo para fazer escambo / Quando os homens vêm, eu cambo / Eu volto para o quilombo / (...) / Eu podia estar roubando / Mas estou criando / Criando harmonia por onde estou passando”. Poderíamos estar fazendo coisas piores, mas temos a arte, que é o limite entre a marginalidade e a criminalidade. E, graças a Deus, fui salvo não somente pelo hip hop, mas pela arte.”

Quando olhava para os meus alunos, ao perceber a apatia e a falta de perspectiva, sempre me dava muita tristeza, a sensação de que temos muito pouco tempo para tudo que é necessário fazer. E me dá mais tristeza ainda, quando expressam uma visão determinista de que sempre foi assim e não dá para fazer nada. Para mim, o ensino de língua e literatura só tem sentido se for para a gente se conhecer melhor, conhecer o outro e conhecer o mundo. O conhecimento não pode ser mecânico e com uma visão apenas utilitária, como algo que se adquire para ter um emprego. Há muita gente que se forma e não tem emprego, há gente que tem emprego mas não tem satisfação, não se sente livre, não tem prazer no que faz. Conhecer significa conhecer o prazer, o trabalho, o esforço e a dor. O trabalho no qual a gente aprende e se transforma é gratificante e prazeroso. Para se atingir o orgasmo, gastam-se muitas calorias, esforços e paciência. Em geral, as mulheres não gostam dos “galos” apressadinhos... Converse com elas...

Numa cidade em que há sete quilombos, com três já reconhecidos; com duas aldeias indígenas, com vários grupos folclóricos, com muitos músicos experientes e inúmeros começando, a cidade ainda volta sua costa, ainda despreza a arte como uma força que poderia salvar a cidade e as pessoas. E despreza ainda mais aquela arte que surge da periferia: o hip hop. Ao solicitar o uso de um espaço comunitário para ser utilizado com oficinas de hip hop, esse espaço foi negado. Marquei para dias depois uma reunião para explicar à pessoa os benefícios que a comunidade teria; a pessoa, que não mora na comunidade e que não ajudou a construir aquele espaço se negou a me receber. E é evidente que fui obrigado a dizer, por telefone, o quanto aquela atitude me revoltava pela mais completa falta de sensibilidade e desrespeito humano, ainda mais quando essa atitude foi tomada por alguém que, em princípio deveria dar o seu testemunho de amor ao próximo.

Novembro é o mês da Consciência Negra e logo no começo, teremos o HIP HOP DA PAZ. Vamos ver se o mesmo Itaú que patrocina os eventos da Paulista contribuirá para que Ubatuba seja mais alegre e mais humana, com justiça e solidariedade. Convite que estendemos a todos aqueles que queiram colaborar. E muito axé!

(*) Ricardo Tacioli.

Rui Alves Grilo
ragrilo@terra.com.br


Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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