Apagam-se as luzes. Cinco segundos e não dá pra evitar o aperto no coração. O espectador, “filho” de “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus”, sabe o bastante para estremecer com a cena “habitué”: barracos aos cacos, mulher sem eira nem beira, copo na mão. Sim, é bem por aí. Quinze minutos de saga de Sandro e Alessandro. Mesma pergunta: - Todos culpados, mais uma vez? Mais quinze minutos e fica claro. Sim, a culpa é de todos nós. Alessandro, o “monstro”, teria tido uma vida diferente se não tivesse sido arrancado das mãos das mães, se ela não fosse viciada, se o mundo não fosse mau, se nós não fossemos omissos. Não, ele não viraria “dono do morro”, cabeça do tráfico, nem teria dado tiros a sangue frio em uma provável mãe de família porque ela cometeu o sacrilégio de não ter dinheiro durante o “corre” (entende-se assalto, no submundo), do dia. E Sandro, o do ônibus? Era o menininho bacana de “São Gongô” (é assim que são Gonçalo é apelidada por seus filhos), teria casado, tido filhos e quem sabe até montado o sonhado quiosque em Copacabana, caso a mãe não tivesse, durante um “corre” de sabe-se lá quem, sido morta á luz do dia. Culpa sua. E, caso a Tia Walquíria, a da ONG, tivesse conseguido arrumar a Sony Music para gravar o Cd de rap, do injustiçado de “São Gongo”, as vítimas da tragédia do 174 ainda estariam aqui, pagando os pecados junto a nós? Culpa minha. Faltou ainda contar da Candelária, tragédia da qual Sandro, o coitado quase foi vítima, enquanto esperava temeroso, pela chegada de Alessandro (a outra vítima), que cobraria – de pistola em punho – dívida de droga. Tradicional. Comum. Normal. Não há nem uma e nem duas gerações de crianças que convivem com o surrealismo apresentado por Bruno Barreto, todo dia. A grande maioria delas, no entanto, chega em casa à noite e encontra pais cansados de trabalhar em faxina, cobrar passagem de ônibus, varrer rua, vender bombom no sinal. Para esses o único retorno é olhar a família de cabeça erguida. Diante da dignidade desses homens, fica difícil fazer juízo de valor de uma situação há milhas de distância da esmagadora maioria dos espectadores (que pagam e caro para ver o filme). Apontar culpados para as mazelas do mundo, nem se fala. Nota do Editor: Gabriela Silva Cuzzuol Ribeiro é jornalista.
|