03/09/2025  15h04
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
28/10/2008 - 19h18
Próxima Parada 174
Gabriela Silva Cuzzuol Ribeiro
 

Apagam-se as luzes. Cinco segundos e não dá pra evitar o aperto no coração.

O espectador, “filho” de “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus”, sabe o bastante para estremecer com a cena “habitué”: barracos aos cacos, mulher sem eira nem beira, copo na mão.

Sim, é bem por aí. Quinze minutos de saga de Sandro e Alessandro. Mesma pergunta:
- Todos culpados, mais uma vez?

Mais quinze minutos e fica claro. Sim, a culpa é de todos nós.

Alessandro, o “monstro”, teria tido uma vida diferente se não tivesse sido arrancado das mãos das mães, se ela não fosse viciada, se o mundo não fosse mau, se nós não fossemos omissos.

Não, ele não viraria “dono do morro”, cabeça do tráfico, nem teria dado tiros a sangue frio em uma provável mãe de família porque ela cometeu o sacrilégio de não ter dinheiro durante o “corre” (entende-se assalto, no submundo), do dia.

E Sandro, o do ônibus?

Era o menininho bacana de “São Gongô” (é assim que são Gonçalo é apelidada por seus filhos), teria casado, tido filhos e quem sabe até montado o sonhado quiosque em Copacabana, caso a mãe não tivesse, durante um “corre” de sabe-se lá quem, sido morta á luz do dia.

Culpa sua.

E, caso a Tia Walquíria, a da ONG, tivesse conseguido arrumar a Sony Music para gravar o Cd de rap, do injustiçado de “São Gongo”, as vítimas da tragédia do 174 ainda estariam aqui, pagando os pecados junto a nós?

Culpa minha.

Faltou ainda contar da Candelária, tragédia da qual Sandro, o coitado quase foi vítima, enquanto esperava temeroso, pela chegada de Alessandro (a outra vítima), que cobraria – de pistola em punho – dívida de droga.

Tradicional. Comum. Normal. Não há nem uma e nem duas gerações de crianças que convivem com o surrealismo apresentado por Bruno Barreto, todo dia.

A grande maioria delas, no entanto, chega em casa à noite e encontra pais cansados de trabalhar em faxina, cobrar passagem de ônibus, varrer rua, vender bombom no sinal. Para esses o único retorno é olhar a família de cabeça erguida.

Diante da dignidade desses homens, fica difícil fazer juízo de valor de uma situação há milhas de distância da esmagadora maioria dos espectadores (que pagam e caro para ver o filme).

Apontar culpados para as mazelas do mundo, nem se fala.


Nota do Editor: Gabriela Silva Cuzzuol Ribeiro é jornalista.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.