03/09/2025  14h56
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Crônicas
31/10/2008 - 07h06
Eu “velhinho” de sessenta anos
Seu Pedro
 

“Quanto tempo você acredita que viverá? Cem anos? Cinqüenta? Vinte? Dez? Um?” Assim começa um e-mail que chegou à minha caixa postal, vindo da amiga escritora Rita Vaz que, em confronto com a sua juventude, pensa, sabiamente, nos idosos. Melhor dizendo, nos “experientes”.

Eleito no pequeno município de Uraí, norte paranaense, Susumo Itimura é o prefeito com mais anos de idade do Brasil: mais de noventa anos. Foi reeleito pela quinta vez, duas consecutivas. A maioria dos repórteres dizia que ele é o prefeito mais velho do país, até que um entrevistador, mais educado, o elogiou por ser o mais idoso dos prefeitos. Ai, ele disse ao repórter: “pode me chamar de velho. Os outros acham assim”. E concluiu: “Há muitos velhos úteis à sociedade, assim como há muitos novos sem tanta utilidade, não é mesmo?” Sorriu. Não entendo como um locutor de minha cidade disse que meu prefeito, com sessenta e três anos, estaria velho para ser reeleito.

A sugestão de idade média ser setenta anos, não é uma certeza de que aos sessenta e nove anos, onze meses, quatro semanas e alguns dias vamos morrer. Um adolescente pode ter apenas mais quatro anos de vida, enquanto alguém de mais de setenta pode viver ainda mais trinta e cinco. Já temos mais de trinta mil pessoas no Brasil acima dos cem anos.

Uma professora que leciona na Universidade Federal de São Paulo fez um estudo sobre a velhice, digo, sobre a terceira e quarta idade. Nas turmas da mestra, o aluno mais jovem tem sessenta anos. Ela diz: “Em um mundo no qual a expectativa média de vida no Brasil era de vinte e cinco anos, isto há apenas dois séculos, praticamente todos os meus alunos estariam mortos”. É um milagre que tenhamos chegado até aqui, o que não é garantia de qualidade, como podemos ver pelo que acontece no mundo. Mas estamos assistindo homens e mulheres com 70, 80 ou 90 anos vivendo ainda como as pessoas de 60 viviam há duas ou três décadas.

Nunca me havia antenado, mas Roberto Marinho, que viveu entre 1904 e 2003, criou a Rede Globo quando completou 60 anos. Morreu depois dos noventa. E ele era de uma geração em que a expectativa média de vida era de quarenta. Fiquei sabendo disto no e-mail. Mas isso não é um caso isolado.

Ted Turner, o criador da CNN, a maior rede de notícias do mundo, era um playboy e esportista até os 40. Quase perdeu tudo várias vezes na vida. Depois disso, criou a CNN, mesmo tendo sido sabotado várias vezes pelos concorrentes. Continua um playboy esportista. Também isto o e-mail me lembrou. Eu apenas sabia que o líder Nelson Mandela ficou mais de dez anos sendo bloqueado ativamente pelo governo sul-africano e vinte sete anos na cadeia, por razões políticas. Aos setenta e dois anos, começou tudo novamente, saindo da prisão, tornando-se presidente da África do Sul e mudando o país que liderou, além de entrar para a história do planeta. Ele nasceu em 1914.

Há uma sugestão para os com mais de setenta: “Não tenha calma nenhuma. Faça o que você tiver vontade de fazer. Viaje, crie, pinte e borde – e não me refiro aos quadros e nem tecidos. Se você tem entre vinte e setenta, sugiro que não se importe com convenções sociais. Elas foram feitas por quem não tinha coisa melhor para fazer, além de falar da vida dos outros”, diz a professora de Brasília que complementa: “Vá e faça. Já que vão falar de você, de qualquer jeito, arrisque-se a ir contra a maré”.

Se não aprovarem, mande-os catar coquinho em uma praia perdida. Faça como o Coelho Branco das aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll: “O Coelho Branco colocou os óculos e perguntou: – Com licença de Vossa Majestade, devo começar por onde? – Comece pelo começo! disse o rei, com ar muito grave. – E vá até o fim e pare”.

Nem tudo que começamos terminamos, mas tudo o que terminamos teve que começar. Por isso, leio os e-mails que recebo, para aprender, e esperando passar dos setenta anos, já pinto e bordo com o que gosto de fazer: escrever.


Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.