O secretário da Segurança Pública de São Paulo - com sua declaração de que a greve na Polícia Civil tem relação corporativa com o escândalo nacional do crime das carteiras de motorista fraudadas por policiais na Ciretran de Ferraz de Vasconselos - perdeu excelente oportunidade de continuar calado. No afã de desqualificar a paralisação trabalhista, tentou espalhar a pecha de corrupta a toda a polícia. Como chefe da Segurança Pública, feriu a dignidade de uma instituição centenária, com larga folha de trabalho à comunidade, e de seus milhares de servidores. Tivesse continuado quieto, como fez desde o início do movimento, poderia, no máximo, continuar sendo acusado de chefe de polícia omisso. Mas, agora, deve explicações a toda a classe e à sociedade sobre o que realmente pretendeu dizer ao estabelecer comunicação entre a greve e o crime das carteiras, descoberto pela própria polícia e hoje em apuração na Justiça. É absurdo alguém pensar que os policiais de todo o Estado perderiam seu tempo para apoiar colegas ditos errantes que hoje enfrentam os rigores da Justiça. A classe quer apenas a recomposição dos seus salários, que o governo, sob desculpa de seguir a Lei de Responsabilidade Fiscal, sucateou ao protelar até a reposição inflacionária ao longo de pelo menos 12 anos. Embora toda classe tenha suas lideranças e o jogo político interno, é importante lembrar que sempre foi o governo quem nomeou os bons ou maus dirigentes da polícia. Por mais interferência que as "forças" da classe tenham, quem tem a caneta para nomear é só o governador. Assim, buscar um eixo secundário para a greve, soa falso e demonstra que o secretário e o próprio governo ignoram a polícia e, em vez de cumprir sua obrigação de apurar, tenta fazer uma gravíssima cortina de fumaça para esconder a dura realidade criada pela sua política salarial. Para identificar singelamente o motivo da greve, basta pegar o salário de um policial no mês de abril de 1995 e ver o quanto recebe hoje alguém do mesmo posto. Ficará claro que nem a reposição inflacionaria foi feita nesse período. A partir daí será fácil entender as razões do movimento, que não se estende também à Polícia Militar só porque os militares são legalmente impedidos de fazer greve. O governo paulista precisa encarar com mais seriedade a questão salarial do funcionalismo. Não pode continuar usando os artifícios das gratificações temporárias e localizadas pois, com esse procedimento, só consegue sucatear as carreiras. Joga os policiais para trabalhar no ilegal "bico", como complementação dos baixos ganhos no Estado. O secretário agride toda a classe e, quando se fala na reivindicação salarial, adota a posição de Pilatos, dizendo que a questão agora é um problema dos deputados. Espera-se que a Assembléia Legislativa demonstre mais juízo que o governo e faça todo o possível para atender com justiça a classe dos policiais e superar os reais motivos da greve que, a cada dia, segue para níveis mais perigosos. Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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