A série é divertidíssima: um repórter do CQC se apresenta a políticos em evidência como especialista em marketing político, e sugere como devem se portar, o que devem dizer, como fingir que trabalham, coisas do tipo. Os políticos, sem exceção, obedecem imediatamente. E o programa põe no ar as ordens do "especialista em marketing político" e a maneira como os políticos as cumprem. É humor ou jornalismo? É humor, porque é engraçado, é feito para fazer rir; e é jornalismo, por mostrar a verdade que tantas vezes se esconde por trás da atitude pública. Pede-se que um parlamentar abra pessoalmente a porta de casa, "para mostrar que é igual a todos", que receba a reportagem "falando ao telefone", e apareça no ar como "quem estava trabalhando", que finja dar ordens a um grupo de assessores, exibindo sua capacidade de delegar tarefas. Eles obedecem. O CQC, como o Pânico, tem forte tendência a ultrapassar certos limites, o que não é bom; mas, ao mesmo tempo, é exatamente essa tendência, essa ousadia, que abre novas possibilidades de captação de notícias. Idéias como a de entregar uma medalha de prata a quem tirou o segundo lugar no segundo turno são inovadoras, tanto que ainda não é possível saber se são ofensivas ou apenas engraçadas; mas, de qualquer forma, revelam o estado de espírito do perdedor com muito mais precisão do que as perguntas tradicionais da reportagem tradicional. O exercício de um mandato eletivo está longe de ser (ou deveria estar longe de ser) um caminho suave, com lindas paisagens e riachos murmurantes. O exercício de um mandato eletivo exige capacidade de rebater dificuldades, de manter-se equilibrado diante de desafios, de suportar adversidades. Quem não for capaz de manter o bom-humor diante de uma provocação de jornalistas-humoristas talvez não tenha condições de conter-se diante de problemas reais. É tudo muito novo, mas a experiência pode dar certo. Vale a pena acompanhá-la e torcer para que tenha êxito. Por que a notícia não pode nos divertir?
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