Ubatuba, 03/11/2008. 

De nada adiantou gritar, clamar, publicar. A vaga necessária para salvar a vida de minha irmã veio muito tarde, apenas vinte horas após seu falecimento, quando seu corpo já estava sendo velado e a apenas duas horas do sepultamento. Sim, porque o seu falecimento deu-se exatamente às 15h08 do dia 02/11/2008, exatamente trinta dias após sua internação, foi o tempo que seu corpo maltratado pelo AVC pode suportar sem o devido procedimento cirúrgico o qual dependia de uma vaga em um hospital com a especialidade (UTI – Neurologia) para transferência da Santa Casa de Ubatuba. Vaga esta que só apareceu (como que numa ironia) no dia seguinte ao seu falecimento. A sensação de impotência naquele instante em que recebi o primeiro telefonema relacionado a oferta de vaga parece que tomou outra dimensão e estive a ponto de explodir, mas trouxe também um sentimento estranho de gratidão que me levou a escrever de novo mas com o intuito de agradecer, porque entendo que sua morte não anula o trabalho e nem a dedicação que tiveram para conosco nestes trinta dias.

Em princípio agradeço o editor chefe do Litoral Virtual que generosamente atendeu meu apelo ao publicar meu pedido de socorro. A seguir, e não necessariamente nesta ordem, agradeço os que leram e tomaram providências a respeito recebi visitas em casa e telefonemas de algumas pessoas; aos que atenciosamente tem acompanhado o caso e nos ajudado sem sequer nos conhecer, alguns moradores de fora de Ubatuba, aos amigos e conhecidos que tentaram fazer algo sem êxito, mas que nos deram força moral e ajuda até material ou financeira; a tantos quantos oraram, comentaram e cobraram providências, agradeço.

Gostaria de deixar claro que o desfecho fatídico do caso não anula os gestos de dedicação, profissionalismo e generosidade e nem mesmo as atitudes solidárias de nenhum destes e é por este motivo que venho pelo mesmo meio agradecer. Porém não podemos ignorar que ela encontrou um descanso para sua longa espera e sem a reparação do seu problema de saúde enquanto outros ainda estão vivos e sofrendo pela mesma razão.

Não pretendo me calar e gostaria de pedir a todos que fizessem o mesmo porque neste exato momento mais pessoas passam pelo mesmo drama e, diferentes dela, estão vivos e sofrendo, porque só quem já acompanhou alguém nesta mesma situação tem noção do verdadeiro significado da palavra sofrer. Gostaria que lutássemos para que providências fossem tomadas no sentido de alterar este sistema de vagas assassino que mais mata do que socorre o cidadão.

Não podemos adquirir equipamentos e ter médicos especializados para estes e outros procedimentos que o daqui cidadão tem que ir buscar fora de nossa cidade? Não é possível um Hospital nos moldes dos Regionais de Taubaté, São José dos Campos e São Paulo que viesse atender os pacientes do Litoral Norte?

Se a resposta é não, então estão concordando que minha irmã foi apenas mais um número na lista das muitas baixas por falta de recursos e vagas, porque as perguntas são muitas e creio que não sou a única a espera de respostas, mas, desejo que a principal razão desta seja externar minha gratidão ainda que a revolta pelos motivos citados seja óbvia e procedente.

Muito obrigada sim, mas, pelo amor de Deus, vamos pelo menos tentar erradicar este problema, vamos pensar juntos, afinal o problema é de ordem social e pública e trata–se de saúde e qualidade de vida.

Fani Ferreira da Silva
faniferreira@hotmail.com
Ubatuba, SP

Nota do Editor: O e-mail acima faz referência ao texto "Uma vaga pra salvar a vida de uma cidadã".