Pós-eleições, a queda de 70% na liberação de recursos destinados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), ocorrida no mês de outubro, enche de preocupação os que acreditaram nesse programa anunciado de forma tão significativa pelo presidente Lula, a ponto dele próprio comparar-se a Getúlio e Juscelino, dois governantes de marcaram época. "Será que o povo vai sofrer o mesmo estelionato acontecido no Plano Cruzado, reformado para pior no dia seguinte à eleição (de 1986)? - pergunta um calejado observador econômico. Embora, em seus discursos, o presidente e seus ministros afirmem que os recursos do PAC estão garantidos, o bom é esperar para ver, nos próximos dias, as explicações sobre a queda de outubro para, só depois dela, termos mais claro se a redução tem ou não a ver com resultado - bom para o governo e aliados - das eleições de 5 de outubro. É inegável que o presidente e seus aliados em todo o pais serviram-se do PAC e dos programas sociais destinados à população de baixa renda para convencer o eleitorado a votar nos candidatos às prefeituras que receberam seu apoio. O resultado é a vitória da base aliada na maioria das localidades. Passadas as eleições, retirar do cardápio o "prato" que sustentou o resultado, seria uma safadeza do tamanho daquela de duas décadas atrás, enfureceu os milhões de honorários "fiscais do Sarney". Lamentavelmente, a administração pública brasileira não consegue passar imune à ação político-eleitoral. O tempo passa e o mau hábito, de prometer (e até distribuir) benesses pagas pelos cofres públicos em troca de voto, continua cada dia mais forte. A Justiça tem batido firme para evitar a corrupção eleitoral, mas sua ação não consegue alcançar o demagógico esquema prometedor dos governos e o seu uso eleitoral. A destinação e emprego de verbas públicas deveriam ser mais técnicos, consistentes e imunes ao pronunciamento das urnas. As "bolsas" e outras benesses distribuídas com o dinheiro do povo não deveriam servir para alavancar as campanhas e, por outro lado, ter caráter mais social, funcionando por tempo determinado e atreladas a outras ações capazes de tirar o necessitado da condição de dependência. Não poderiam criar as legiões de beneficiários e nem mantê-las "estocadas" para as próximas eleições. Quanto ao PAC - depois de tudo o que falou sobre o programa - o presidente da República não pode nem pensar em engavetá-lo, sob o risco de cometer um crime de lesa-opinião pública. Manter suas obras em andamento e colocar em dia o cronograma daquelas que estiverem atrasadas é o melhor que o governo tem a fazer. Até como forma de enfrentar a crise vinda do exterior. O dinheiro do governo é extremamente benéfico para equilibrar o ritmo da atividade econômica e deixa como residual as obras realizadas. A manutenção do PAC e o enfrentamento da crise econômica mundial serão importantes parâmetros para mostrar ao Brasil se Lula é realmente o governante que procura parecer, ou não passa de mais um aventureiro que o destino alçou ao poder... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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