Um dia deste, garimpando na Internet, em minha bateia luziu uma jóia: “A dor da perda é a visita da morte”, frase rara para mim, embora eu tivesse consciência, desde que li o livro “Meu pé de Laranja Lima”, de José Mauro Vasconcelos. E, do menino Zezé, personagem central da trama extraí: “Matar não quer dizer a gente pegar o revolve de Buck Jones e fazer bum. Não é isso”. Quantos de nós já não estamos mortos, tanto por que alguém tenha nos esquecido, quanto por termos perdido algo ou alguém? E na televisão aparece o rosto de Aldo José da Silva, ou Everaldo Pereira dos Santos, não importa o nome. É o pai da menina Eloá, assassinada no seqüestro. A partir da aparição na TV, Aldo passou a ser identificado como matador. E ali estava “morrendo”! Crimes passados, mas não esquecidos, condenado pela Justiça e foragido da Polícia, cabe às autoridades penalizá-lo. Eu, como espectador só (idêntico um homem morto), volto ao meu passado como neo-repórter, que na época cobria uma editoria de polícia. Encarregado pelo redator-chefe, cobri um acidente automobilístico envolvendo um homem que viajara desde o Paraná até o Norte de nosso país, em um percurso de três dias sem repouso: “Eu cochilava no acostamento quando o sono me apertava”, confessou ele. O filho de quinze anos, que vinha junto, foi a vítima fatal. Já tendo colhido os dados necessários para escrever a notícia, voltei à redação com várias opiniões sobre o acidente. Terminada a minha tarefa fui chamado pelo editor. Havia escrito em um trecho: “A falta de responsabilidade do pai matou o filho”. Me entregando de volta meu papel escrito, fui lembrado. “Ao ser um bárbaro, não há pai que não seja penalizado pela morte de um filho. Aqui não estamos noticiando um bárbaro e sim um homem que já pagou alguma pena antes de ser condenado”. Rasguei o papel e reescrevi a matéria. E que passava na cabeça de Aldo ao presenciar a tragédia que envolveu a família e culminou com a morte de Eloá? Quantos “buns” a memória do matador terá disparado? Ali estava um alguém já apenado! Ainda como espectador, penso: “Tudo, na moderna imprensa, é transformado em cifras, em pontos no ibope, até a vida de um ser humano”. Se é possível ou ético uma menina de 12 anos namorar um adolescente de 17, idades de Eloá e Lindenberg ao começarem o relacionamento, é questionável. Mas se ligarmos a TV e começarmos uma análise pelas novelas, indo aos desenhos animados, veremos que é relevante hipocrisia se determinar que tal relacionamento fosse inadequado, já que os textos da mídia apelam e empurram as crianças para uma maturidade sexual precoce. Juízes que fazem maus-juízos. Que a Justiça receba da Polícia o matador Aldo ou Everaldo, para colocá-lo frente-a-frente com a Lei. Que se faça a justiça que o homem entender justa. Mas ele, o matador, ao sentir a fuga de uma vida à qual, indubitavelmente, dedicava amor, morreu! Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
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