No artigo anterior tentei mostrar que a idéia de mudança, associada à campanha do presidente eleito, é falsa, visto que Barack Obama é a expressão política mais acabada da radicalização da estrutura de poder instalada no Estado norte-americano. Foi essa estrutura de poder que gerou a crise atual. E qual é esta estrutura? Aquela que deposita no poder de Estado a esperança de que ele tenha as soluções para todos os problemas humanos, seja por medida legislativa, seja pela ação direta do ente estatal. Essa estrutura de poder determina a expansão continuada da oferta de moeda, dos gastos públicos e das ações militares. É nisso que essa gente acredita. Dominando a Casa Branca e o Congresso, os liberais esquerdistas poderão agora levar a sua pseudo política ao limite do possível. Naquele artigo sublinhei a falsa crença de que seria possível, via ação estatal, suprimir a lei da escassez. Quero aqui sublinhar outras crenças, não menos perigosas e falsas. [O discurso sóbrio de Obama em Chicago foi apoteótico em face da platéia prostrada a seus pés. As imagens foram assustadoras, até gente como Colin Powell chorando. Fez-me lembrar de Hitler no seu auge, desprovido da fúria vingativa que portava o alemão. Hitler também invocou o efeito raça a seu favor. As manifestações populares por todo o mundo foram algo assombroso também, visto que o eleito nada tem a ver diretamente com africanos, europeus e asiáticos. As massas mundiais, de fato, identificam-se com a pessoa carismática do presidente eleito. Sóter, um salvador, é o que todos enxergam, em delírio alucinado. Mas ele não pode ser isso, é na verdade o oposto disso. Sua única e irredutível proposta é pôr o Estado a serviço dos apetites das massas, satisfazendo os dois vícios mais comuns, a preguiça e ócio. E prometendo o que não pode prometer: a eliminação do risco existencial. A decepção das massas será tão rápida quanto foi a sua adesão. O principio de realidade não tolera os sonhos. A crise está aí para ser enfrentada.] Uma das questões práticas relevantes que Obama terá pela frente é a guerra no Iraque. Não consigo imaginar uma saída rápida e unilateral das forças expedicionárias que lá estão. Se assim for feito a guerra civil se instala de imediato e um confronto entre os xiitas iranianos e os sunitas sauditas será questão de dias. A presença norte-americana ali garante que esses brigões não briguem. A saída das forças dos EUA e o conseqüente conflito elevariam o preço do petróleo a números imprevisível, desestabilizando ainda mais a economia mundial. O preço em vidas também seria brutal. Isso obrigaria um retorno, mais caro e mais custoso, das forças que ora estão lá. E um retorno seria pior também porque o Irã teria que ser enfrentado e, com ele, talvez Rússia e China. Em resumo, uma saída rápida e unilateral seria algo tão estúpido como foi a política unilateral de desarmamento feita pela Inglaterra e EUA na década de 30 do século passado. Da mesma forma, não enfrentar a ameaça nuclear do Irã, em termos categóricos, é convite para que as forças israelenses o façam. Nesse cenário teríamos também um desastre do qual poderia se esperar qualquer coisa, até uma guerra mundial. Não é possível querer a paz omitindo-se das responsabilidades militares. Os clérigos que controlam o Irã só conhecem o argumento da força. A necessidade de enfrentamento dos déficits públicos dos EUA, tanto o orçamentário como o da balança comercial, impõe o contrário de uma política expansionista: é preciso reduzir gastos e aumentar impostos. Obama foi eleito prometendo justamente o oposto. Na melhor das hipóteses ele se curvará ao princípio de realidade e fará o que precisa ser feito, mesmo ao preço de perder sua popularidade. Ainda não perdi as esperanças de que, por detrás do discurso populista, esconda-se alguém com vocação de estadista. Na pior hipótese tentará o salto para a frente, gastos alucinados bancados por emissão de moeda. O desastre viria em breve tempo. Obama tem a simpatia de toda a gente, mas essa simpatia deveu-se a circunstâncias únicas, pela sua origem, sua cor e seu discurso. Sua promessa de paz e distensão mundial exigirá o oposto do que as multidões gostariam que viesse. Os governos europeus querem ter mais influência política, assim como Rússia, China e Japão. A equação não fecha. Poder anda de mãos dadas com responsabilidade. Não é possível tê-lo sem exercê-lo. Será interessante observar quais serão as opções tomadas por ele. Quaisquer que venham a ser desagradará muita gente. Só torço para que ele não dê as costas à realidade como ela é. Seria sua pior opção. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.
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