A vitória do senador Barack Obama, primeiro negro a eleger-se presidente dos Estados Unidos, não representa a solução automática da crise da economia mundial nem garante uma mudança da inserção da maior potência do planeta no contexto internacional. A crise não ficará em compasso de espera, aguardando a posse do eleito em 20 de janeiro nem aliados e adversários do governo norte-americano suspenderão as pressões que sobre ele exercem em razão de antagonismos recentes ou antigos. Nada disso diminui a importância da esmagadora vitória obtida pelo candidato do Partido Democrático. Ela contribuiu para solucionar uma crise previsível das democracias: a periódica necessidade de mudança geracional, com a passagem do bastão das mãos de líderes surgidos num contexto histórico ultrapassado para as da geração seguinte. Isso fica evidente no notável rejuvenescimento do quadro de eleitores americanos alistados e no comparecimento recorde de votantes às seções eleitorais. Por trás dessa realidade está a inserção, no corpo político da nação americana, de grupos que dele se mantinham à margem ou se contentavam com uma integração precária: jovens, afro-americanos e hispânicos. Essa realidade viabiliza uma mudança de quadros no Partido Democrático e torna imperativa uma alteração semelhante no Partido Republicano, vitimado por um furacão eleitoral inédito em décadas recentes. A crise econômica não será reduzida a um patamar administrável sem alterações de fôlego nos envelhecidos instrumentos definidos na conferência de Bretton Woods, em 1944. Exige, igualmente, uma mudança dos paradigmas de gestão financeira do governo norte-americano, a melhoria da qualidade do gasto público e a adoção de uma política tributária que, em vez de reduzir a carga tributária dos mais ricos, socorra sua combalida classe média e gere novos postos de trabalho. Nada disso se fará da noite para o dia. Mas a eleição de Obama cria uma expectativa positiva em relação ao que o governo dos Estados Unidos venha a fazer a partir de 20 de janeiro. Não é razoável esperar que assuma, de imediato, a condição de indutor de soluções para as angústias da economia mundial, inclusive porque lhe faltam recursos para tanto. Mas pode-se, razoavelmente, esperar que, de maneira relativamente acelerada, deixe de ser o gerador de problemas que degradam a vida de bilhões de indivíduos em todos os quadrantes da Terra, em que se converteu durante os oito anos do governo Bush. Nota do Editor: Antonio Carlos Pannunzio é deputado federal pelo PSDB-SP e membro da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.
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