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16/11/2008 - 08h27
Política de cotas
Rui Alves Grilo
 

Você é a favor ou contra?

Há discriminação racial em Ubatuba? Como ela se manifesta?

Quais os mecanismos para que a igualdade e a fraternidade existam de fato?

Estas questões serviram para abrir a discussão do debate realizado pelo Coletivo do PT Contra a Discriminação e o Racismo.

A tônica geral era o desejo que não fosse necessário ainda haver esse tipo de comemoração. Isso só acontece porque ainda é muito forte a discriminação, não só contra o negro, mas também contra o índio, o pobre e a mulher.

O professor Carlos Bruno, da Escola Áurea Rachou do Sertão da Quina, lembrou uma afirmação de Nelson Mandela: ninguém nasce odiando; é preciso aprender a odiar. E também é preciso aprender a amar. Fez um apanhado histórico mostrando como a dignidade do negro foi sendo subtraída e como a fala do branco foi sendo introjetada no negro de tal forma que este perdesse a coragem de assumir-se como tal porque ser negro representa tudo que é negativo: “a coisa tá preta”, “ovelha negra”, “vagabundo como um negro”...

O projeto da nação brasileira foi construído sobre o racismo, a exploração da mão-de-obra e a exclusão social. Forçado pelos ingleses que queriam ampliar o mercado consumidor, a “libertação” se deu gradativamente para inglês ver porque poucos negros chegavam a idade de 60 anos para serem libertos pela lei dos sexagenários. A Lei Áurea tirou os grilhões que os prendiam mas jogou-os à própria sorte. Antes, para trabalharem eram alimentados e tinham um teto para se abrigar; libertos, foram substituídos pelos imigrantes, ficando sem trabalho e sem lugar para sobreviver, ocupando até hoje os piores lugares das periferias e os serviços mais penosos e com os menores salários. O incentivo à vinda de imigrantes foi uma tentativa de embranquecimento do povo brasileiro, como se o negro fosse um ser inferior. Se tudo lhe foi tirado, não dá para exigir que seu desempenho seja o mesmo. Primeiro é preciso reparar os danos que lhes causaram proporcionando o acesso a tudo que lhes foram negado. Daí a necessidade da política de cotas. Não dá para tratar como iguais aqueles que não tiveram oportunidade e que tiveram seus direitos negados.

O sr. Ernesto, participante do movimento umbandista, se referiu à discriminação que as pessoas sofrem, na forma como são tratados e ridicularizados, dificultando o acesso a empregos, a financiamentos. Para não serem discriminados, são obrigados a não usarem correntinhas ou símbolos que os identifiquem com práticas religiosas e culturais de origem africana. Foi lembrado que tanto a capoeira como os ritmos de origem africana foram muito perseguidos até o período de Getúlio Vargas.

Seu Antonio, liderança do Quilombo da Caçandoca, se referiu a grande luta pelo reconhecimento das terras quilombolas e as dificuldades que até hoje encontram para usarem efetivamente o dinheiro liberado para a construção de moradias para os quilombolas. Citou a recente destruição criminosa de uma grande área de palmito juçara que iria ser aproveitado para a produção de polpa, que geraria renda e trabalho para um número significativo de quilombolas. Também relembrou a participação em vários encontros em Brasília, onde mulheres negras e indígenas estabeleceram parceria para a defesa de seus direitos.

Analisando o retrocesso do resultado eleitoral, em que nenhuma mulher foi eleita e o fato de todas terem baixo índice de votação, a Nalva ressaltou a necessidade de fortalecimento da auto-estima da mulher e de geração de renda.

O Amadeu, estudante do Deolindo, apontou a necessidade de nos olharmos como iguais, recuperando nossa humanidade e questionando os valores do capitalismo, onde as pessoas se fecham em seu individualismo, ligando o ar condicionado e fechando os vidros com insulfilm para não ver os pedintes e para não ouvir os gritos dos pobres.

A Naídes, representando o Sindicato Rural comentou a situação mundial em que o neocapitalismo sempre teve como um dos pilares a não ingerência do Estado na economia, teve que pedir arrego para salvar da bancarrota os ricos que sempre ganharam explorando os pobres. Foi como se fosse a Queda do Muro de Berlim do capitalismo. E espera que não sejam os pobres a pagar o pato, como sempre.

Relembrando o período eleitoral, a Naídes reforçou a necessidade da sociedade civil elaborar propostas e cobrar dos governantes uma posição. Entre os oito pontos apresentados aos prefeitos do Litoral Norte, o prefeito eleito de Caraguatatuba se comprometeu a incentivar e apoiar os pequenos produtores através da formação do banco de terras disponíveis.

Também foi lembrado que, apesar dos avanços trazidos pelo recente Plano Diretor, a discussão sobre a função social da terra, criação do banco de terras e instalação do Conselho Municipal de Habitação foram escamoteados. E sem a instalação desse conselho, não há possibilidade do município captar fundos para a construção de moradias dignas, especialmente para aqueles que moram em áreas de risco. E não ter um teto decente é uma das piores formas de exclusão social.

No encerramento foi ressaltada a importância da participação na palestraA experiência de uma organização no aprimoramento da cidadania”, que irá acontecer dia 18, às 19 horas, no Salão da Igreja São Francisco, na Rua Thomaz Galhardo, Centro.

Rui Alves Grilo
ragrilo@terra.com.br


Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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