Quando lhe atingem com um petardo, alguém diz que o atirador não merece que você chore? Se você for assaltado e lhe levam o salário do mês, as pessoas sugerem que você esqueça o ocorrido? Nem preciso que me responda. Nunca ouvi alguém falar isso para quem foi ferido fisicamente ou por quem tenha tido o bolso afetado. Porém, é uníssono o conselho de que você ignore quem lhe roubou sonhos ou lhe perfurou a alma. O texto deve ser curto, pois hoje não posso pedalar como Marília Paixão, escritora mineira, nos seus textos dinâmicos, bem-escritos e deliciosos. Estou em repouso forçado, escrever ou navegar na web é minha atual transgressão. Escrevo bobagens em um começo de tarde de outubro quando ainda venta em Natal. Jogo conversa fora com o leitor, mas falo sério, também. Falo nas dores e furtos invisíveis que laceram seres humanos tanto quanto os visíveis. As pessoas sensíveis sabem disso e respeitam os que sofrem na alma. Alimentar o sofrimento é burrice que acomete até moças inteligentes. Chorar ajuda e disso eu entendo, apesar de não ser mais a carpideira que fui. Eu choro para limpar o coração. Bom é amar a mim mesma e me cuidar. Eu me amo quando aceito a dor, quando busco compreensão, quando tomo um bom banho com aroma de flor de laranjeira, quando escrevo o que quero, mesmo que tenha que voltar para a cama já. Eu amo quem me ouve, quem me abraça e quem me faz rir. E talvez o culpado da dor que sinto seja o Alan Greenspan. Aquele que reinou no Banco Central Americano. Pelo menos é o que diz a Veja de algumas semanas atrás. Estou aceitando conselhos sobre se devo ignorá-lo ou não. Nota do Editor: Evelyne Furtado é cronista e poetisa em Natal (RN).
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