O laudo que tecnicamente aponta a TAM, a Anac, a Infraero e a Airbus, como responsáveis pelo maior acidente aéreo do país, que matou 199 pessoas, no aeroporto de Congonhas, deve ser encarado com toda seriedade como importante obra investigativa e não como peça final de julgamento. Seus dados, embora contraditórios a uma verificação anterior do próprio instituto, jamais poderão servir para favorecer a impunidade dos culpados e, muito menos, para retardar medidas que tragam mais segurança à aviação comercial. O Ministério Público está preparado para denunciar pelo menos 10 pessoas - entre elas autoridades do setor - por ações e omissões que no seu conjunto não impediram a tragédia. A nação espera que cada um pague na justa medida de sua falha e que o residual seja muito mais didático do que punitivo. O levantamento pericial acusa a Anac de não observar normas de segurança para a operação em Congonhas, a Infraero de não controlar devidamente a operação e a TAM e a Airbus de não criarem condições de treinamento e equipamento para evitar que os pilotos, estressados, pudessem posicionar os manetes incorretamente conforme o constatado na perícia. Lamentavelmente, não há nada a fazer em relação à quase duas centenas de mortos. Espera-se apenas que as entidades e empresas envolvidas amparem suas famílias e façam a melhor reparação material possível, já que a vida não tem retorno. Mas há que se trabalhar sério para prevenir outras tragédias com as mesmas características. Mais do que a polícia e a justiça, as autoridades aeronáuticas e o próprio governo precisam encontrar respostas conclusivas e convincentes para cada detalhe do ocorrido na fatídica noite de 17 de julho. Independentemente de ter ou não a quem punir, é preciso saber e responder com absoluta certeza os motivos que levaram o Airbus a não frenar quando tocou a pista e a espatifar-se no terminal de cargas. Interessa a todos os usuários do transporte, inclusive às suas operadoras, saber exatamente onde se deu o "furo" do vôo 3054 e ter a certeza de que providências foram tomadas para evitar sua repetição. Num país de dimensões continentais como o Brasil, a aviação comercial é um importante braço da atividade econômica. Executivos, comerciantes, técnicos e toda espécie de profissionais movimentam-se preferencialmente de avião. O mesmo ocorre, cada dia mais, com as cargas de manufaturados e outros produtos de elevado valor agregado. Um setor com essa responsabilidade não pode ser negligenciado em nenhuma hipótese. E recursos para isso possuímos pois, além da Força Aérea, ainda temos centros avançados de estudos e uma indústria aeronáutica que compete com as melhores do mundo. Basta alinhar todos os recursos na mesma direção e teremos, sem demora, as respostas para as perguntas que tanto nos intrigam. Esses centros de excelência, com certeza, irão ao cerne da questão, revelando por quê o Airbus não freou. A partir daí, formularão as novas questão decorrentes, e tudo se esclarecerá. O passado deve ser reparado da melhor forma. Mas, a grande tarefa é prevenir para o futuro... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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