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Medicina e Saúde
20/11/2008 - 13h29
A epidemia do futuro e o futuro da epidemia
Carlos Varaldo
 

Temos um grave problema de saúde pública por um mal que assola de forma crônica 350 milhões de pessoas no mundo, dois milhões de brasileiros segundo a Organização Mundial de Saúde: a Hepatite B. A doença já virou epidemia e se alastra com uma rapidez impressionante, sendo considerada atualmente uma das maiores viremias crônicas da humanidade. Seus números se tornaram tão expressivos quanto o desconhecimento em relação à doença, pois a maioria das pessoas nem sabe que está infectada.

Assim como o HIV/AIDS, a Hepatite B é uma doença sexualmente transmissível, entretanto, seu vírus chega a ser cem vezes mais infeccioso do que o da AIDS e o número de infectados no mundo oito vezes maior em relação à AIDS. A falta de conhecimento sobre a Hepatite B e o aparente desinteresse das autoridades em relação à doença resultam em dados alarmantes: apenas um em cada 800 infectados recebe tratamento no Brasil pelo SUS, enquanto a relação para o HIV é de um em cada três infectados.

Por isso, todos os anos, pessoas morrem em função do comprometimento do fígado causado pelo vírus da Hepatite B, essa doença silenciosa que pode levar a quadros crônicos, ao desenvolvimento de cirrose ou câncer. A doença é definida como uma inflamação do fígado causada pela infecção com Vírus da Hepatite B (HBV), cujo material genético é constituído por DNA.

A boa notícia é que os avanços da medicina e das pesquisas científicas têm proporcionado um verdadeiro arsenal de medicamentos aprovados no Brasil pela ANVISA para o tratamento da Hepatite B, possibilitando o controle efetivo dos pacientes e evitando a progressão da doença a um custo relativamente baixo, menor que o tratamento da AIDS. No entanto, inexplicavelmente, esses medicamentos não são fornecidos pelo SUS para tratamento dos pacientes que dependem do sistema público.

O protocolo que regula o tratamento da Hepatite B no SUS é do ano 2002, portanto baseado em estudos até 2001 e defasado de todas as últimas inovações científicas. Em novembro, o protocolo completou seis anos com a utilização dos medicamentos disponíveis naquela época, ou seja, no final do século passado. Desde o último protocolo, novos medicamentos revolucionaram a resposta terapêutica para a doença, apresentando excelentes resultados, infelizmente indisponíveis na rede pública, que ainda conta basicamente com a Lamivudina, um medicamento mais antigo, que gera resistência viral em 70% dos pacientes, de acordo com os mais recentes estudos científicos.

Tal como na AIDS, o vírus da Hepatite B é mutante, apresentando a característica de criar resistência aos medicamentos. A detecção desta mutação só é possível por meio do controle trimestral de carga viral. O crescimento desta carga significa que o vírus está criando resistência, sendo fundamental a mudança imediata para outra opção terapêutica. Do contrário, a transmissão da Hepatite B torna-se ainda mais grave, por conta de ser um vírus diferenciado e resistente a diversos medicamentos.

O Brasil passa então à condição de criador de cepas do vírus, ou seja, de disseminador de vírus resistentes às mais recentes opções de medicamentos. Isso significa que o País poderá, num futuro bem próximo, desenvolver e disseminar um tipo de Hepatite B que nenhum medicamento conseguirá controlar. É desalentador observar que a vontade política existente para a epidemia da AIDS não seja a mesma em relação à Hepatite B.

Em comparação com a AIDS, a Hepatite B possui formas de prevenção e tratamento muito mais efetivos. Além da iminente necessidade de alteração do protocolo e disponibilização dos mais modernos medicamentos para a Hepatite B, que conseguem um excelente controle da doença, é preciso que o governo dê mais atenção à disseminação de informações sobre a Hepatite e campanhas de vacinação.

A vacina para evitar a contaminação com a Hepatite B é altamente eficaz e fabricada no Brasil nos laboratórios oficiais a um custo bastante viável, podendo ser encontrada gratuitamente em todos os postos de saúde para pessoas até 19 anos de idade. Entretanto, a cobertura vacinal é muito deficiente devido à inexistência de campanhas nacionais. Percebemos que não há por parte do Ministério da Saúde esforços em divulgar a disponibilidade da vacina, uma situação que não encontra explicação entre os especialistas.

É incompreensível que os programas nacionais ligados à AIDS e à Hepatite B não estejam de alguma maneira conectados, já que as formas de contágio são as mesmas e que o infectologista que trata HIV/AIDS está capacitado a tratar a Hepatite B, motivo pelo qual as duas doenças deveriam estar juntas no mesmo programa de prevenção e tratamento.

Desde a sua criação, em fevereiro de 2002, o Programa Nacional de Hepatites Virais, que é ligado ao Ministério da Saúde, tem por objetivo estabelecer diretrizes no SUS para identificar as hepatites virais. Entre as prioridades deste programa deveria estar a atualização desta lista de medicamentos aos pacientes atendidos pelo SUS. Esta atualização deve contemplar os medicamentos já aprovados pela Anvisa e comercializados no Brasil nos últimos seis anos.

Pior ainda, na página do Ministério da Saúde, na relação de doenças sexualmente transmissíveis do Programa DST/AIDS, são fornecidas informações sobre 15 DSTs, mas a Hepatite B nem sequer é citada. Por que censurar informações sobre a doença à população? Assim como a falta de conhecimento e de vontade política, a epidemia se alastra de forma avassaladora, ganhando o triste status de epidemia do futuro.


Nota do Editor:  Carlos Varaldo é Presidente do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite e Vice diretor da World Hepatitis Alliance.

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