A obesidade nem sempre é vista como doença e muitas crianças acabam sofrendo com a discriminação
A obesidade está aumentando no Brasil e cada vez mais atinge as crianças. Além dos problemas relacionados à saúde, as crianças com sobrepeso também enfrentam o preconceito. “Quem apresenta sobrepeso é excluído dos grupos sociais, ridicularizado, considerado preguiçoso, sem ‘força de vontade’, sem personalidade, mentiroso e que se encontra na atual condição física por sua culpa”, aponta a psicóloga Talita Marques. As discriminações que as crianças obesas sofrem são diversas. Na escola são comuns apelidos como “baleia”, “rolha de poço” e “bujão de gás”. Além disso, as crianças com sobrepeso são discriminadas por serem maiores, mais lentas, ou por usarem roupas de adulto, pois as marcas que a maioria dos colegas usa não têm numeração grande. “Freqüentemente, essas crianças acabam vítimas de bullying - crianças que são humilhadas, sofrem agressão física e/ou verbal de seus colegas motivadas pela diferenças, cor de pele, uso de óculos, peso etc.”, alerta a psicóloga. É na infância que é formada a personalidade, as preferências de uma pessoa e como ela reagirá às situações que a vida lhe apresenta, explica Talita Marques, e os prejuízos emocionais desta fase podem acompanhar a criança pelo resto da sua vida. “Nesta etapa da vida é fundamental sentir-se aceito para a boa construção da auto-estima e auto-imagem positiva e saudável, e os obesos têm que fazer muita força para agradar”. As crianças com sobrepeso acabam como as “engraçadas” da turma, as que passam cola no dia da prova, tudo para serem aceitas e não sofrerem tanto com sua imagem pessoal. “Isso é extremamente difícil, pois o reforço social da magreza e discriminação do sobrepeso é algo que está muito enraizado na sociedade”, ressalta. A influência da família A ajuda dos pais é essencial no tratamento de um filho obeso. A psicóloga salienta que eles podem trabalhar a auto-estima de seu filho, reforçando suas características positivas e o que ele faz bem. Caso o preconceito venha da escola, é importante procurar a Diretoria e os professores e esclarecer o que está acontecendo. “Ninguém deve sucumbir à estigmatização da obesidade, nem a escola, nem a família, nem a própria criança. É fundamental que a escola ensine às crianças que obesidade é uma doença, assim como o diabetes e que é preciso respeitar as diferenças”, afirma. “A obesidade nas crianças pode ter diversas causas, entretanto, o ambiente familiar é um dos de maior influência, pois a criança aprende a se alimentar de acordo com o estilo adotado em casa. A família precisa ter uma rotina alimentar, com horários e locais para comer, aprender a saborear os alimentos, tornar o momento da refeição algo agradável para todos, ir a parques, optar por brincadeiras mais ativas, andar de bicicleta ao invés de ficar em casa na frente da televisão, videogame ou computador ou apenas ir a shoppings. Desenvolver a comunicação na família, aprendendo a falar o que sente e não comer o que pensa é fundamental para se ter um comportamento alimentar saudável”, acrescenta a psicóloga. Entretanto, não se deve considerar apenas a aparência da criança para caracterizá-la obesa. As crianças magras podem ter sua saúde prejudicada em função de uma alimentação pobre em nutrientes, mas rica em gorduras, corantes artificiais, conservantes etc. “Elas merecem tanta atenção quanto aquelas com sobrepeso, contudo, no caso da criança obesa é fundamental que a doença seja tratada por uma equipe de especialistas, tanto por causa das limitações que ela impõe (problemas físicos, emocionais, preconceitos etc.) quanto pelo fato da obesidade infantil ser preditiva da obesidade no adulto”, observa Talita Marques.
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