Uma reflexão para o Dia Nacional de Combate ao Câncer (27/11)
Quem não tem projetos de vida? Para uns é aquela viagem a dois. Para outros, é ver um filho se formar ou o primeiro neto nascer. Mas, embora todos nós sonhemos, alguns têm desejos marcados por um inexorável prazo de validade. São as pessoas que vivem no limiar entre a vida e a morte, naquele território que todos tememos pisar. Falemos aqui de pacientes com câncer. Um dia, parte dos portadores da doença receberá a notícia de que sua patologia não poderá ser curada. Para alguns, serão indicadas medicações de última geração. Essas drogas poderão ampliar a sobrevida e favorecer a qualidade de suas existências. Um grupo de pacientes não terá sequer escolha. Alguns não terão interesse. Mas, há aqueles para quem a possibilidade de viver mais será simplesmente imprescindível. Em nome desses, é necessário trazer à pauta, com responsabilidade, o dilema das drogas ainda não aprovadas no Brasil, mas registradas no FDA e no EMEA. Integram protocolos de tratamento para americanos e europeus, são indicadas por médicos que atuam em centros de referência no mundo, mas por aqui só podem ser adquiridas por duros e onerosos processos de importação. Embora se compreenda que é necessário que sejam realizados todos os estágios para a aprovação das novas medicações em nosso País, há que se ter um processo seguro e transparente para aquisição enquanto as drogas seguem disponíveis apenas no exterior. Em torno delas, há inúmeros questionamentos, inclusive sobre a real origem. Assim, os pacientes e seus familiares vão sendo triplamente atingidos: pela doença, pelo alto custo das drogas e pela incerteza. Conheço pessoalmente a realidade da luta contra o câncer. Por duas vezes ela esteve presente em minha família, constituindo-se em um dos maiores desafios ao qual um ser humano pode ser submetido. Para quem não viveu esse percurso, há um relato que ilustra o valor que o paciente dá a cada dia vivido. Trata-se da história de um senhor que contabilizava seu tempo em pescarias. Conta o médico assistente que, já comprometido pela doença, o paciente teve sua vida estendida, com qualidade, graças ao uso de drogas importadas. "Já fui pescar 14 vezes com meus filhos", disse ao doutor. Para ele, as tais medicações fizeram imensa diferença. Em 2015, a Organização Mundial de Saúde prevê 15 milhões de novos casos de câncer no mundo e 9 milhões de óbitos devido à doença. É desnecessário dizer que países em desenvolvimento, como o Brasil, apresentarão maior incidência. A luta contra a segunda causa de mortes ainda será longa e árdua. Ao invés de caminhos nebulosos, é necessário luz. Nota do Editor: Carla Furtado é jornalista. É diretora de conteúdo da Agência de Notícias Editoria de Saúde e da Revista Ser.
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