Havia um mundo ali. De outras histórias, preces contadas, versos cruzados, sonho a sonho. O universo dentro daquele sorriso. Alegria de olhos que não seriam os mesmos: “Pior que o safanão na boca do estômago é o tapinha imperceptível, quase afago”. Tapinha aqui, “talvez não seja dali”, vestiu terno e foi. Fechando a alma sem saber, calando a boca sem sentir, curvando os olhos sem querer. Foram anos e meses e dias e dias e meses e anos. Segundos. Até que esqueceu de contar. Assim como esqueceu de falar da festa, de esboçar esperanças, de contar os bons. Parou o riso de oblíquo arredondado, aquela energia não vista há tanto, que no íntimo, não era mais: a personificação da energia. O problema era que tudo o que era, era por luz e o próximo: “Não há vagas”, tinha o delicado poder implacável de ir apagando. Vagarosamente desmantelando peça por peça, até que... sem querer não havia sequer as sombras. Olheiras no que antes era verdade. E assim foi por dias e meses e anos e anos e meses e dias, apagando suave e imperceptivelmente, como faca que dança ingênua sob a languidez da pele urgente. Tipo larva sob solo de céu verdadeiro: “Você não é o perfil”: nova espécie de metralhadora disfarçada de chá das cinco. Vingança stalinista cadenciada em notas musicais, desmantelando, mais lento do que se pode resistir: um a um, prece a prece, sonho a sonho. Nota do Editor: Gabriela Cuzzuol Ribeiro é jornalista, professora de literatura e pós-graduanda em Jornalismo Cultural pela PUC-SP.
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