Escrever sobre alguém que é escritor, poeta, professor, instituidor de uma fundação, é tarefa difícil, principalmente se o trabalho deste escritor já foi escrito e descrito por outros autores, todos amantes da literatura. A vida do professor João Fernandes da Cunha, que há menos de um mês tomei conhecimento, é, sem dúvida, uma existência invejável. E, pelo que sei, sem os estresses comuns aos homens muito ocupados. Parece até que o relógio dele tinha vinte e cinco horas, uma hora a mais do que todos, o que lhe dava alegria e alegrava aos seus. Segundo depoimento de um dos filhos, Dante, o pai era um visionário, alguém que enxergava muito além do futuro dos homens comuns, e por isto seu trabalho, ainda em vida, se transformou em uma fundação que promove para a comunidade as mais variadas formas de benefícios sociais na área de cultura. E para manter a Fundação João Fernandes da Cunha, em Salvador, Bahia, as reservas financeiras do professor foram aplicadas, por ele mesmo, ao longo de anos, em imóveis diversos, para que em 21 de maio de 1992 passasse a existir um sonho de um mestre configurado em amor ao próximo, e, principalmente, a quem gosta de cultura. Para nós, comuns, nos bastaria ter sido professor emérito, por mais de trinta anos, na Universidade Federal das Bahia – UFBA, e reconhecido como um devotado à instrução, educação e desenvolvimento cultural de milhares de estudantes. Já estaríamos gratificados e nossa vida, cantada após nossa morte, já bastaria. Porém o professor João Cunha imaginou dar longevidade a projetos que visassem o auto-desenvolvimento do ser humano, mediante a educação e elevação do nível cultural, para que este possa alcançar sua própria e melhor integração na sociedade. O sonho do João, que poderia ser um dos tantos comuns professores, promove cursos, seminários, conferências, palestras, encontros e outros eventos. E ainda mantém uma biblioteca com um numeroso acervo de livros à disposição do público, para consulta e leitura no recinto, disponibilizando, também, o empréstimo em domicílio, mediante cadastro. Sem falar da magnífica idéia do “livro livre”, em que um livro, normalmente duplicado no acervo, é estrategicamente deixado nas ante-salas de consultórios e escritórios e lá, mediante instruções em uma etiqueta, um leitor interessado pode levar para casa e ler pacientemente. Após a leitura, não necessita devolvê-lo à Fundação. Tem o compromisso, ao final da leitura, de devolver o livro em um local em que outro possa, igualmente, utilizá-lo. Mas não é apenas de literatura que vive a Fundação. Também no apoio à criação de orquestras e corais e na capacitação do indivíduo. Enfim, são tantas as atividades! A Fundação João Fernandes da Cunha já está na sua terceira e atual sede, inaugurada em 21 de maio de 2001, localizada no “Coração de Salvador”, o Campo Grande, a mais bonita e acolhedora praça desta capital. Até o presente momento, a manutenção da fundação se dá pelos recursos próprios, pelo voluntariado dos filhos, e por dedicação dos funcionários e amigos. Assim, ao me propor, voluntariamente, a produzir matéria jornalística no meu pequeno Vanguarda, que se fosse um grande jornal também o faria, o faço de boa-vontade, na certeza de que, sendo o beija-flor do pingo d’água na floresta, terei entregado a minha gota, em reconhecimento a quem gostaria de imitar. Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
|