O bruxismo é um hábito caracterizado pelo ato de apertar e/ou ranger os dentes. Quando ele ocorre no período noturno (durante o sono) recebe o nome de bruxismo e, quando ocorre durante o dia (com a pessoa acordada) recebe o nome de briquismo. Na realidade tanto bruxismo como briquismo são termos para designar o hábito de ranger os dentes de uma forma parafuncional. Na idade média acreditava-se que as pessoas que rangiam os dentes estavam sob a ação de um feitiço ou bruxaria. Nos séculos XIV e XV, de maneira totalmente absurda, chegavam a ser feitos procedimentos com a realização de aberturas na calota craniana das pessoas para que os feitiços pudessem sair. O termo bruxismo é derivado do francês "la bruxomanie" e foi utilizado por alguns estudiosos no século XX para identificar um problema desencadeado pelo movimento anormal da mandíbula característico do ranger dos dentes. O bruxismo ocorre em cerca de 15% da população, tanto em crianças como em adultos, em ambos os sexos. Em crianças menores de seis anos, o hábito de ranger os dentes, muitas vezes, pode ser considerado normal e está relacionado com o desenvolvimento crânio-facial, devendo um odontopediatra sempre ser consultado. Alguns trabalhos indicam uma maior incidência nas mulheres, porém, não existe uma prevalência absoluta e dados científicos significativos para comprovar este fato. Nos idosos, a incidência é bem menor e cai para apenas 2% ou 3% dos indivíduos. Na realidade todas as pessoas rangem os dentes dentro de um certo padrão de normalidade. É considerado bruxismo, quando este hábito ultrapassa justamente este padrão, ou seja, quando as pessoas apertam seus dentes com uma força acima de 30% do valor da força máxima de contração da mandíbula determinada pelos músculos da mastigação, caracterizando, justamente, o hábito parafuncional. O bruxismo, normalmente, não esta associado a nenhum tipo problema mental ou psiquiátrico, porém, é importante frisar que existe uma associação direta com o estresse emocional. É claro que fatores oclusais relacionados aos dentes, isto é, caracterizados por desarmonias ou posicionamento incorreto dos dentes, podem desencadear o bruxismo, ou seja, quando existe um posicionamento incorreto que provoque alterações na articulação dos dentes. Porém, o fator emocional é predominante em 100% dos casos. Quer dizer, se uma pessoa tem um fator oclusal desfavorável alto associado a um fator emocional baixo, normalmente não ocorre bruxismo, porém, se existe um fator oclusal desfavorável baixo associado a um fator emocional alto, normalmente ocorre o bruxismo. Na realidade, o bruxismo é um bom indicador de que algo não vai bem e a pessoa está sujeita a algum tipo de estresse. Esta situação precisa ser controlada, pois, os problemas que o bruxismo pode acarretar são muito graves. Como conseqüências do bruxismo pode-se citar principalmente o desgaste dos dentes, em especial do esmalte dental. Em dentes fragilizados, como por exemplo, no caso de cáries ou restaurações extensas, o ranger pode provocar inclusive fraturas. O trauma repetitivo pode provocar também inflamação gengival e perda do suporte ósseo causando mobilidade dos dentes. A articulação temporomandibular ou ATM é a articulação da mandíbula com a base do crânio. Ela é uma articulação bilateral que atua simultaneamente sendo responsável pelos movimentos de abertura e fechamento da boca. A Disfunção da ATM é o funcionamento anormal da articulação temporomandibular, ligamentos, músculos da mastigação, ossos maxilar-mandíbula, dentes e estruturas de suporte dental relacionados com os movimentos mandibulares. O funcionamento adequado da ATM é caracterizado por um sincronismo durante os movimentos de rotação e deslizamento da articulação. A disfunção da articulação temporomandibular (DTM) caracterizada pelo posicionamento incorreto da articulação e as dores na ATM são problemas muito comuns quando existe o hábito do bruxismo. Além disso, os problemas na ATM podem ocasionar estalos, travamentos, restrição da abertura ou desvios laterais durante os movimentos mandibulares. Dores na região do rosto, pescoço, ouvido, ombros e cabeça também podem estar presentes por contração excessiva dos músculos da mastigação. Normalmente as dores são piores pela manhã e a severidade dos desgastes varia de caso a caso, podendo, em casos mais graves, pode ocasionar a necessidade de endodontia ou levar a perda dos dentes. Como tratamento, em primeiro lugar, deve-se diagnosticar adequadamente o problema. O melhor é aceitar que o bruxismo não vem do nada e tentar achar as suas causas no dia-a-dia. Um passo importante para tentar curar ou pelo menos diminuir o bruxismo é cortar a tensão psicológica e o estresse. Isto pode ser feito através de esportes, ioga ou exercícios de relaxamento. O hábito noturno de ranger os dentes é mais comum que o diurno e pode estar associado ao sono inadequado tanto em quantidade como em qualidade. O estudo do sono, através da realização de polissonografias, pode ajudar a diagnosticar este problema. Existem algumas dicas como, por exemplo, procurar dormir e despertar sempre no mesmo horário; evitar bebidas alcoólicas, café, chá preto, chá mate e refrigerantes cafeinados na hora de dormir; manter no quarto um ambiente silencioso, escuro e com temperatura agradável; não dormir assistindo TV; fazer uma alimentação leve e de fácil digestão antes de dormir; realizar atividades físicas regularmente, porém, com pelo menos 4 horas de antecedência do horário de dormir; não fumar; e principalmente, não tomar nenhuma medicação sem orientação médica. O cirurgião-dentista deve fazer um exame minucioso eliminando os chamados fatores oclusais. Muitas vezes, é necessária a utilização de placas de relaxamento na arcada dental durante o período do sono para aliviar a sintomatologia e desprogramar a mordida e o hábito adquirido. Estas placas de acrílico distribuem as forças musculares por todos os dentes e não apenas em um ou dois mal posicionados. Apesar de um efeito paliativo, elas proporcionam proteção aos dentes e uma desmemorização do problema durante esta etapa do tratamento. Próteses malfeitas também devem ser ajustadas ou substituídas. Por último, o dentista deve fazer um ajuste fino da articulação dental com a utilização de aparelhos ortodônticos, ortopédicos ou através de desgastes seletivos dos dentes nos pontos que impedem a correta articulação. É importante lembrar que a higiene oral sempre é muito importante e não pode ser deixada de lado principalmente no caso da existência de dentes desgastados. A utilização de escovas ultramacias, com um grande número de cerdas, deve sempre ser indicada para que os problemas não se agravem. Também as escovas interdentais, para higienização das áreas inacessíveis localizadas entre os dentes, são fundamentais. A solução é procurar um bom profissional para indicar o tratamento mais adequado. Nota do Editor: Prof. Dr. Hugo Roberto Lewgoy é especialista, Mestre e Doutor em Dentística pela Universidade de São Paulo. Prof. da Uniban e da Associação Brasileira de Odontologia.
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