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Opinião
01/12/2008 - 16h14
Crise da estupidez
José Nivaldo Cordeiro - Parlata
 

Entendo que a abordagem de autores como Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca e Robert Michels ao estudar a formação das elites se esgota no aspecto descritivo. Esses autores constataram a existência de elites econômicas e políticas ao longo de história e o mais óbvio, que não há como existir um corpo social sem que uma elite dirigente seja constituída por qualquer critério, legítimo ou ilegítimo.

Outra coisa é compreender a responsabilidade que as elites constituídas carregam em si. Elas precisam legitimar-se, servir como representação existencial das gentes, mas precisam também conduzir os destinos do conjunto social. Para isso servem. Por isso a obra de Ortega y Gasset se torna muito importante para sublinhar que essa dita elite precisa ser egrégia, carregar os valores da tradição, ter presente em si a consciência histórica. Ser elite é ter responsabilidade diante de todos e de cada um e pressupõe essa diferenciação moral que faz do integrante da elite um ser humano distinto, capaz de tomar as melhores decisões.

Na mesma linha, a obra de Irving Babbit sublinha a necessidade vital para a ordem democrática da emergência de lideranças ativas, conscientes de seu papel moral enquanto dirigentes. Seu livro DEMOCRACIA E LIDERANÇA é especialmente instigante por conter a mais sólida crítica à filosofia de Rousseau (capítulo II) já escrita, que na prática demonstra a incompatibilidade de uma liderança moral, comprometida de fato com os valores superiores, e a igualdade geral defendida pelo genebrino. Babbit é atualíssimo e precisa voltar a fazer parte dos currículos universitários, se é que algum dia o foi no Brasil.

É fundamental a idéia de que o líder precisa conduzir a sociedade e não se deixar conduzir por ela. Basta olhar em nossa volta, com a eleição de Barack Obama e de Lula por aqui, para se perceber o abismo em que se encontra o mundo. Não é mais o cachorro que balança o rabo, é o rabo que balança o cachorro. O bordão “Yes, we can” é esse grito da multidão para o falso líder, que não tem o preparo adequado e nem a disposição de impor às massas as decisões necessárias para o bom governo da sociedade.

E tenho que comentar de novo a obra de Voegelin, HITLER E OS ALEMÃES, porque nela o autor mostrou que o fenômeno do nazismo pode ser lido como uma constatação do aviltamento da elite dirigente ao nível das massas, isto é, a estupidificação da elite. Voegelin vai mais longe, ao qualificar essa elite pervertida de “ralé”, sem tirar nem pôr. É precisamente o que estamos a ver nos EUA (e entre nós também, mas seria tema para outra reflexão).

A crise econômica que explodiu com a bolha do subprime é exatamente o resultado do uso ilegítimo dos poderes do Estado para a satisfação do imediatismo do apetite das massas. É a omissão das elites e até mais: é a perversão das elites. Os fatos: 1- A lei da escassez existe e não pode ser extinta; 2- Há uma hierarquia social que é determinada fundamentalmente pelas habilidades e aptidões individuais. Procurar a equalização prática de toda a gente é a grande e violenta ilusão socialista; 3- O monopólio da emissão da moeda dado a si pelo Estado impõe a responsabilidade de ser o guardião da moeda, apesar de tudo e de todas as pressões.

A bolha imobiliária foi criada porque políticos e burocratas bem intencionados quiseram abolir a lei da escassez, quiseram impor arbitrariamente o acesso ao crédito de forma artificial para quem não deveria ter, praticaram uma frouxa e artificial política monetária, que alimentou uma expansão econômica impossível de ser mantida. A inflação nos EUA só não aumentou muito porque eles são (ainda) os emissores mundiais de moeda conversível, houve grande aumento da produtividade ligado às novas tecnologias de informática e de telecomunicações e a China entrou para valer no mercado mundial ofertando mão de obra barata. Esses fatores benéficos, todavia, não servirão mais de contrapeso à crise que chegou.

O sonho acabou, a realidade se impôs. A isso é o que chamamos de crise. Sua origem está na elite dirigente dos EUA, que violentou as leis econômicas e se recusou a conduzir as massas, passando a ser por elas conduzidos. Veja, caro leitor, essa promessa de Obama de universalizar o acesso à saúde. É impossível de ser honrada: serviços de saúde são um bem econômico caro e o Estado norte-americano, mesmo rico, não é rico o bastante para abolir sua escassez. Faz-me lembrar os socialistas que, anos atrás, quiseram implantar a Tarifa Zero nos transportes coletivos de São Paulo. Não passaram das intenções porque é pura maluquice.

A conclusão é que está no poder uma elite irresponsável e estúpida, que não cumpre o seu papel e não tem a estatura moral para ser condutora do Estado. Tem sido assim de há muito, mas o singular do momento é que a concentração de estúpidos no poder nunca foi tão grande. A eleição de Obama é esse coroamento da estupidez, do hermetismo da alma, do sonho gnóstico de recriar o homem dentro de um paradigma que nega a antropologia. A sucessão de “pacotes” para o resgate da crise mostra essa ausência dos egrégios: estão a praticar as maiores iniqüidades com o dinheiro público e com a moeda, em nome de uma falsa ciência econômica, que não pode justificar atos estúpidos.

A experiência nazista (e a comunista também, da mesma natureza, portadora da mesma estupidez criminosa de sua elite) redundou em um cataclismo mundial. Como o mundo idealizado não se ajusta ao real, a falsa elite tenta moldá-lo à força e para isso só dispõe dos instrumentos de Estado, que é violência concentrada. Temo pelo que virá. Se em Obama não estiver a alma de um estadista, disposto a contrariar as massas e seus cabos eleitorais, como a família Clinton, qualquer coisa pode acontecer.


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

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