Qual é a questão central da crise econômica mundial? Não é nem a sua origem, indiscutivelmente derivada da desastrada atuação do Estado, que exorbitou no que pôde: na regulação, na emissão de moeda, nos gastos públicos e na determinação imperativa de empréstimos para pagadores duvidosos, gerando a bolha imobiliária. Dizer que a crise nasceu do mercado e das regras de movimento da sociedade capitalista é menos que burrice, é má fé. Nem também é discutível a sua dimensão, já de proporções mundiais e profundas. Não se pode ser leviano diante da gravidade do momento. Essa crise já é a mais séria desde 1929 e deixará seqüelas por muitos anos. Também é indiscutível que a saída da crise envolve a atuação do Estado, seja porque este tem o monopólio da emissão de moeda, pois se trata, antes de tudo, de uma crise de crédito, seja porque reformar o Estado se tornou tarefa de urgência. Sem a emissão monopolista não há como ser restabelecido o volume de crédito necessário para a superação da crise. Da mesma forma, é imperativo discutir a atuação e o tamanho do Estado. Se essa crise trouxe algo de bom é colocar essa questão para reflexão, mesmo que a maior parte dos economistas, os que supostamente têm os instrumentos para a superação da crise, partam do suposto de que o Estado deve aumentar. A questão técnica não pode subordinar a questão ética. Se admitimos que o tamanho e a exorbitância Estado estejam na raiz do problema, segue-se logicamente que seu crescimento não pode ser a solução, mas sim, o agravamento das coisas. O problema é que o debate na grande imprensa e mesmo na academia parte de supostos falsos, que levam a soluções falsas. É preciso restabelecer o primado da lógica e do princípio de realidade para nortearem a discussão. Quero aqui focar na questão do crédito. Em tese, para que o crédito seja restabelecido nem o Estado precisa crescer além do tamanho que já tem e nem é necessário quebrar as regras morais da sociedade capitalista. Economistas como Krugman recomendam não deixar que as grandes corporações problemáticas vão à bancarrota, como a GM e o Citibank, beneficiárias do “boom” econômico artificial, bem como lamentam que o banco Lemann Brothers tenha sido liquidado. O equívoco econômico aqui se soma ao equívoco moral. Essas grandes corporações tomaram decisões erradas, incharam custos, pagaram rendimento a acionistas, diretores e gerentes desproporcionais aos resultados obtidos. Então sancionar essas decisões com créditos abundantes e baratos, ou subscrição de capital, mesmo que condicionado a mudanças nas suas práticas corporativas, será um ato de profunda imoralidade. É dar dinheiro para maus gestores, que poderia ser utilizado ou para sanear o Estado ou para apoiar empresas sólidas e sérias. Aqui o ato econômico são é também o ato revestido de plena moralidade. Ou deveria ser. Para mim é essa a questão central, que deveria ser o dilema de consciência da equipe econômica de Barack Obama. Executar os atos morais é o caminho mais curto para a saída da crise. Praticar imoralidades é prolongar a crise até o limite do insuportável. Veremos nos próximos meses essa dança em torno da moralidade e o que dela emergir tornará o presidente eleito ou um estadista ou um vilão aos olhos da história. Nota do Ediitor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.
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