"Quem não quer resolver, monta uma comissão de alto nível para tratar do assunto". A velha e matreira prática, razão do descrédito de governos e governantes parece que mais uma vez será adotada. Depois de jurar que a economia brasileira estava imune à crise internacional (uma grande mentira!), o governo agora começa a discutir medidas junto ao Congresso, mas seus arrogantes aliados dizem que a discussão não indica a tomada de posição, pois haverá muito cuidado em relação aos impactos nas contas públicas. Querem fazer a omelete sem ter de quebrar ovos, impossível... Fala-se preliminarmente em redução da jornada de trabalho sem reduzir salário, mudança no fator previdenciário e revisão de alíquotas dos tributos que incidem sobre o trabalho. Temas que sustentaram o PT durante toda a sua trajetória oposicionista e foram esquecidos a partir de 2003, agora voltam à ordem do dia. Mas tudo solto como discurso de quem está querendo ganhar a eleição e sem o peso de realidade de quem está na administração pública e tem a obrigação de fazer. Desde a famosa citação do presidente Lula, de que o Brasil de hoje é diferente do tempo em que "um espirro nos Estados Unidos provocava uma pneumonia aqui", o brasileiro espera o verdadeiro diagnóstico. Agora, com o começo das demissões no setor automobilístico, fica difícil manter a farsa otimista. Durante cinco anos, o governo do PT conviveu com a prosperidade, a estabilidade na economia mundial e os bons ventos da economia interna. Por conta disso, nem teve o trabalho de mudar os procedimentos de seu antecessor e cuidou apenas da própria reeleição, criando discutíveis benefícios de massa e não avançando na solução de problemas. O que mais fez foi aperfeiçoar a algoz máquina de arrecadação e, conseqüentemente, ampliar a carga tributária real. Agora, com a água batendo-lhe aos fundilhos, o velho PT volta ao seu discurso. E, quando fala em proteger o emprego com redução de jornada e outros que tais, mais uma vez prega a solução da crise pelos seus efeitos e não através das causas. Se realmente está disposto a enfrentar a crise, o governo brasileiro precisa, antes de tudo, proteger o empresariado para que este possa manter a produção e, através dela, garantir o emprego. Não é obrigando-o a pagar mais por menor jornada de trabalho que se vai enfrentar o problema. Tem de desonerá-lo dos abusivos encargos públicos para que possa ter seus produtos competitivos no mercado e não seja devorado pelos impostos. Especialmente num momento desses, o governo tem de ser hábil administrador, menos voraz e devolver imediatamente ao setor produtivo pelo menos um pouco do muito que arrecadou nos últimos anos. Já não cola mais o discurso de que o Brasil é o único que está bem no mundo economicamente conturbado. Lula, Mantega, Meireles e seus auxiliares precisam pensar rápido numa fórmula para viver os novos tempos. Mas não podem, em nenhuma hipótese, mas uma vez, penalizar quem produz... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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