Uma noite, antes de dormir, minha mulher ficou brigando comigo por eu não ter pago o carnê com a prestação das Lojas Manlec, que eu havia esquecido. Era para ser só uma reclamação, mas eu tive a infeliz idéia de fazer um comentário cínico no meio da discussão. Pra quê? A mulher virou um bicho e a discussão uma briga séria, tão séria que, não tendo outra alternativa, tomei uma atitude drástica, atitude que todos os homens, se não tomam deveriam tomar, quando não há mais recurso numa discussão entre o casal: fui dormir. Pelo menos nos meus sonhos eu posso tomar minhas próprias decisões e ninguém vai se meter com a minha vida, afinal se um homem não tem condições sequer de sonhar, então ele não é um homem é um animal (animal não sonha, não é?). Por favor, se alguém já viu na internet que os animais também sonham, fiquem quietos senão eu não termino essa crônica. Pois bem, o meu sonho, naquela noite, foi sublime. Eu estava num grande salão, com muito luxo, gente bonita, drinks e, junto ao piano estava cantando ninguém menos do que o Agnaldo Rayol (é aquele mesmo dos graves fantásticos), numa performance belíssima, soltando a voz, ali do meu lado, sem palco, no mesmo nível do salão e só eu chegou perto dele para vê-lo terminar aquela canção de forma apoteótica. Quando ele terminou a canção, num de seus maiores e mais longos graves que já fora testemunhado, ele simplesmente se virou para mim, deu um sorriso e perguntou: você já pagou a Manlec? Nota do Editor: Sérgio Luis Lisboa é administrador de empresas, agente de trânsito e escritor. Natural de Porto Alegre (RS), reside atualmente em Cachoeirinha (RS). Seu site oficial é o “Crônicas do Sérgio” www.cronicasdosergio.blogspot.com. Escreve para vários jornais e sites jornalísticos e de escritores em todo o país.
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