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Opinião
28/12/2008 - 15h17
Oitenta anos depois
José Nivaldo Cordeiro - Parlata
 

The Ogre does what ogres can,
Deeds quite impossible for Man,
But one prize is beyond his reach,
The Ogre cannot master Speech:
About a subjugated plain,
Among its desperate and slain,
The Ogre stalks with hands on hips,
While drivel gushes from his lips.

W. H. Auden, August 1968

A crise de 1929 está completando oitenta anos e de novo a humanidade encontra-se confrontada com peripécias equivalentes. As mentes lúcidas da época não se enganaram com o que estava acontecendo. Se a multidão idiotizada não sabia muito bem o que a esperava, tanto os agentes do mal sabiam o que faziam como aqueles que lhes davam combate. Hitler, Stalin e Mussolini tinham seus objetivos bem claros. Na América os progressistas dominavam a Presidência da República e não hesitaram em pôr em marcha a Grande Sociedade. Entre nós tivemos a experiência do Estado Novo, fascista em estado puro. Havia um acordo entre os líderes políticos de que o caminho da prosperidade e da redenção humana passava pelo Estado Grande. Pensadores e filósofos nos dois hemisférios passaram a legitimar o retorno ao Estado Total, que vigeu desde os tempos bíblicos, tendo sido domesticado somente no Advento cristão.

Homens como Ortega y Gasset, Von Mises, Raymond Aron e Irving Babbit faziam solitário contraponto a essa regressão histórica. Eles viam o enorme perigo que era a construção da Grande Sociedade, seja aquela de vertente comunista ou nazista (sua variante nacionalista), seja a fascista, que teve nos EUA um seguidor entusiasta. O redemoinho de destruição que viria embaralhou um pouco o sentido das palavras, mas oitenta anos depois é possível retornar ao ponto de partida e ver mais claramente. Só com a eleição de Barack Obama e o triunfo completo do Partido Democrata é que essa plataforma fascista alcançou o apogeu nos EUA. Não podemos esquecer que na Europa essa forma de organização social em que o Estado é tudo, compra, vende, tributa, emprega e regula a vida cotidiana de cada um – o Estado Total – já é uma realidade há muito tempo.

Obviamente que a liberdade como aquela entendida pela tradição judaico-cristã e pelos liberais clássicos está em vias de desaparecer, com todas as conseqüências dessa constatação. O cultivo dos valores morais, dos direitos fundamentais e da ética visigótica que coloca o primado da moralidade sexual e da propriedade foi definitivamente sepultado. O mundo mudou violentamente, de tal sorte que ficamos espantados ao percorrer os caminhos de volta dessa jornada.

Isso não seria importante se não tivesse conseqüências para a vida prática e para a vida do espírito. Seria um simples passatempo de um observador diletante, mas infelizmente não é. Na vida prática temos a eclosão das crises econômicas e políticas, que teve agora um novo ciclo aberto com o setembro negro, de desdobramentos imprevisíveis. A vida do espírito, está em franca decadência, ficando agora confinada a indivíduos isolados, verdadeiros restos de Israel que são preservados pela graça de Deus, partilhando de angústias indizíveis.

O fato é que oitenta anos depois voltamos ao mesmo ponto da espiral descendente que então se formava, como um furacão demoníaco. Voltamos ao mesmo ponto, mas em alguns degraus inferiores. Estamos mais perto do olho do furacão. O deus dos ventos presente no Zaratustra de Nietzsche agora sopra seu bafo infernal com mais vigor. Essa realidade foi escrita em pedra, por toda a eternidade, no poema de Yaets:

Tudo se desmancha no ar. O centro não segura
a imensa anarquia solta sobre o mundo.
Terrível maré de sangue invade tudo e
as cerimônias da inocência são afogadas.
Os homens melhores não têm convicção;
e os piores estão tomados pela intensa paixão do mal.

Outro poeta não foi menos atento ao que estava acontecendo, W. H. Auden. Em 1929 ele escreveu o poema que ficou até 1945 sem título e inédito. Era demasiado profético e apenas com a consumação dos acontecidos é que veio à luz. O título foi sintomático: “1929”. Transcrevo abaixo a quarta parte do poema, que fala por si:

It is time for destruction of error.

The chair are being brought in from the garden,

The summer talk stopped on that savage coast

Before the storms, after the guests and birds:

In sanatoriums they laugh less and less,

Less certain of cure; and the loud madman

Sinks now into a more terrible calm.

The falling leaves know it, the children,

As play on the fuming alkali-tip

Or by the flooded football ground know it –

This is the dragon’s day, the devourer’s:

Orders are given to the enemy for a time

With underground proliferation of mould,

With constant whisper and with casual question,

To haunt the poisoned in his shunned house,

To destroy the efflorescence of the flesh,

The intricate play of the mind, enforce

Conformity with the orthodox bone.


You whom I gladly walk with, touch,

Or wait for as one certain of good,

We know it, know that love

Needs more than the admiring excitement of union,

More than the abrupt self-confident ferewell,

The heel on the finishing blade of grass,

The self-confidence of the falling root,

Needs death, death of grain, our death,

Death of the old gang; would leave them

In sullen valley where is made no friend,

The old gang to be forgotten in the spring,

The hard bitch and the riding-master,

Stiff underground; deep in clear lake

The lolling bridegroom, beautiful, there.

Oitenta anos depois podemos recitar o poeta com toda atualidade. Nada do que escreveu envelheceu, mas tudo se agravou. É como se o infernal Plutão rompesse nos céus em duelo apocalíptico com Saturno, devorando a humanidade. Os demônios estão à solta. O falcão não é mais controlado pelo falcoeiro.


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

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