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31/12/2008 - 15h01
Sr. prefeito, Ubatuba merece uma explicação
Rui Alves Grilo
 

Através do Ubatuba Víbora fiquei sabendo do aumento da taxa do lixo, fato já previsto em artigos anteriores porque não dá para manter o custo se aumenta a distância entre o lugar de coleta e de destino. Se o aumento desse custo era previsto, era necessário um plano estratégico para reduzir o volume do lixo destinado ao aterro.

Desde o começo do mandato, o senhor sabia que não haveria novo licenciamento para aterro sanitário e o que estava em funcionamento, além de poluir o Rio Grande com o chorume, estava no seu limite de capacidade.

Ao mesmo tempo, a mídia local têm divulgado reclamações contra os moradores de rua, sobre a grande quantidade de lixo nas ruas e praças da cidade.

Gostaria de saber: a) se houve um trabalho de cadastramento dos catadores de sucata no sentido de organizar a coleta seletiva do lixo e a formação de cooperativas; b) por que não se organizou o Fórum Lixo & Cidadania e um amplo debate sobre os resíduos sólidos, envolvendo as associações de bairro e as ongs do município?

Sabe-se que há linhas de financiamento públicos no FNMA/CEF; também há financiamentos privados e internacionais, tanto para a solução do problema dos resíduos sólidos como para a geração de emprego e renda e programas de inclusão social, mas tem como requisito necessário a instalação do Fórum Lixo & Cidadania, instrumento para gestão socioambiental integrada e compartilhada, por meio da atuação dos órgãos de governo, ONGs e incubadoras, dedicados às questões relativas aos resíduos sólidos. O Fórum Lixo & Cidadania municipal constitui um espaço importante no processo de formação de consciência crítica acerca dos conflitos e potencialidades da gestão de resíduos sólidos, permitindo aos seus participantes trocarem experiências, formular soluções integradas e atender as demandas comuns e individuais para o desenvolvimento de práticas que promovam, desde a destinação adequada dos resíduos com a inclusão dos catadores de materiais recicláveis, até o consumo consciente.

Na maioria das cidades brasileiras, mulheres e homens, num trabalho isolado, insalubre e disperso, batalham nas ruas, dia e noite, para garantir a sobrevivência; assim, impedem que o lixo aumente a poluição de córregos e rios. Além de facilmente contraírem doenças, são vítimas da exploração de intermediários das indústrias que fazem a reciclagem de materiais. Em geral, os catadores são desempregados e de baixo nível profissional e cultural, sofrendo ainda com a incompreensão e a má vontade das prefeituras.

No entanto, há várias experiências positivas de solução desse problema. Como exemplo, vou citar o caso da ASMARE de Belo Horizonte, cujo quadro se modificou quando a Pastoral de Rua da Arquidiocese estimulou e orientou os catadores de lixo a defenderem seus direitos. Esse trabalho foi iniciado na década de 1980 e tinha como objetivo promover a organização desses homens e mulheres, estimulando-os a batalharem pela valorização de seu trabalho. Pretendia-se, sobretudo, promover o resgate da cidadania dessas pessoas, antes condenadas a viver nas ruas e desprovidas de qualquer direito. Por isso, em 1º de maio de 1990, foi fundada a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte, a Asmare. Ela resultou, portanto, de uma intensa mobilização, por meio de atos públicos, ocupação de espaços para a triagem de recicláveis e protestos encaminhados à Câmara de Vereadores da capital mineira. Assumindo um papel reivindicatório junto à municipalidade, a Associação marcou o início do movimento organizado de luta pelos direitos da população de rua. Essa luta está provocando transformações no imaginário social e forçando a administração pública a romper com uma postura histórica em relação aos catadores como incapazes de se defenderem. Eles migraram, então, de uma situação de marginalidade para o reconhecimento por parte do poder público municipal de serem parceiros na realização da coleta seletiva de lixo. Em 1992 foi iniciada a construção de um galpão da Asmare pela prefeitura. A partir desse trabalho, muitos catadores e ex-moradores de rua, antes dependentes químicos, ou mesmo alguns portadores de doenças mentais, tiveram oportunidade de se restabelecer e construir novos valores. Tiveram a oportunidade de estudar e de oferecer melhores condições de vida a seus filhos.

Atualmente, a equipe administrativa da Asmare e do Reciclo Espaço Cultural é composta, em grande parte, por catadores, sendo assessorada por técnicos e universidades parceiras.

Devido à falta de recursos e a baixa escolaridade é muito difícil que os catadores se organizem em cooperativas sem o apoio de alguma instituição que lhes dê suporte; assim, a parceria entre prefeituras e associações de catadores vem se ampliando por ser vantajosa para ambos, inclusive em cidades pequenas.

Recentemente, a arquiteta Márcia Macul, que possui residência na Estrada da Almada, esteve na Câmara Municipal para expor o Projeto Lixo Zero, em que até o lodo das estações de tratamento são transformados em bloquetes. Não seria o caso de tentar implantá-lo na cidade?

Se outras cidades conseguiram resolver o problema da destinação dos resíduos sólidos de maneira sustentável e inteligente, por que Ubatuba não pode conseguir?

Reduzir o volume de lixo deve ser prioridade nesse próximo mandato.

Com a palavra o prefeito.

Rui Alves Grilo
ragrilo@terra.com.br


Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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