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Crônicas
02/01/2009 - 08h30
Sabedoria indígena
Risomar Fasanaro
 

Ouvi em uma palestra do deputado Luís Grenhalgh, que certa vez houve, aqui no Brasil, um intercâmbio entre brancos e índios, para propiciar às crianças de ambos os povos a oportunidade de conviverem alguns dias e, assim, entrar em contato com uma cultura diferente da sua.

Por infelicidade, durante sua permanência entre os brancos, uma criança indígena adoeceu gravemente, e por mais que tentassem, os médicos já não lhe davam nenhuma esperança de vida.

Três emissários foram enviados à tribo da criança enferma, para buscar o pai que, daquela forma, poderia dar-lhe o último adeus. Era preciso pressa, a máxima urgência, pois a criança já estava agonizando.

Chegando à aldeia, os enviados explicaram o que acontecia, e pediram ao índio que os acompanhasse, pois poderia, quem sabe, ainda encontrar o filho com vida.

O veículo que os transportava à cidade corria muito. Tanto que perdendo seus contornos, a paisagem deslizava em manchas verdes, amarelas, vermelhas, mais parecendo uma pintura abstrata. Cada segundo se tornava precioso, por isso o carro seguia seu vôo desvairado.

Após alguns quilômetros de percurso, o índio, que se mantivera em silêncio todo o tempo, pediu que parassem o veículo. O motorista diminuiu a velocidade e parou o automóvel. Feito isso, o índio desceu calmamente, dirigiu-se a uma imensa árvore frondosa e sentou-se à sua sombra. Ali ficou um longo tempo imóvel e em silêncio.

Os missionários, nervosos, não entendiam o que estava se passando. Cansados de esperar, chamaram-no de volta ao carro; mas ele apenas acenou a mão, em sinal de espera. Para desespero dos homens brancos, o indígena parecia não se dar conta de que o tempo se escoava e que, com aquela parada diminuíam, cada vez mais, as chances de encontrar a criança com vida.

Depois de longo tempo, o próprio índio resolveu levantar-se e voltar ao carro. Como não lhes desse qualquer explicação, um dos emissários resolveu perguntar o motivo daquela parada. Então, calmamente o índio respondeu:

- É  que vocês correram tanto, que minha alma ficou lá atrás, e eu precisava esperar por ela, para continuar a viagem.

Sem perceber, muitas vezes agimos como aquele índio. Seguimos velozmente pela vida deixando nossa alma pelo caminho. Seguimos sem ela e, o que é pior, nem nos damos conta de onde a deixamos. E muitas vezes com a pressa, a desatenção, corremos o risco de perdê-la para sempre. De seguir pela vida como um zumbi, ou um robô.


Nota do Editor: Risomar Fasanaro é jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.

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