A inauguração de um novo ano é sempre uma oportunidade para a reflexão e a renovação. No caso da imprensa, a crise financeira internacional, que neste novo ano ameaça atingir os fundamentos da economia real, deveria servir como inspiração para algumas mudanças. Desde os anos 1980, os jornais e revistas vêm seguindo certos dogmas que já dão sinais de fadiga. Um deles, e talvez o fundamental, é o conjunto de pressupostos que acompanha a convicção de que vivemos em um mundo pós-moderno. Esse conjunto de crenças que compuseram a base teórica das reformas por que passaram quase todos os jornais nesse período repete de certa forma o que se deu no mundo das artes e espetáculos, onde a mediação passou a ser mais importante do que a obra. A rigor, a imprensa acaba criando um universo auto-referente no qual há pouco espaço para o contraditório. Quebrar consensos Alguns estudos sobre a linguagem da mídia, como aqueles dedicados à crítica de arte e literatura pelo ensaísta e poeta Affonso Romano de Sant’Anna, revelam que estamos imersos numa sopa de sofismas tratados como verdades absolutas. Um deles, aquele segundo o qual o mercado financeiro é capaz de se auto-regular e prescinde do controle social, acaba de se transformar em pó. Outra característica que merece uma análise mais profunda neste momento de reflexão é a insistência em abordar a natureza complexa do mundo contemporâneo com disciplinas antiquadas. Na política, por exemplo, o círculo do noticiário se encerra nas instituições tradicionais, ignorando-se o poder das redes sociais, que compõem instituições virtuais também capazes de atuar. O ano acaba de nascer, de um parto difícil e com dias sombrios pela frente. A imprensa precisa se abrir para o novo, arriscar-se mais na interpretação da realidade e sair da caixa de consensos em que se enfiou no fim do século passado. A imprensa precisa voltar a surpreender.
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