O ano começa com a piada de mau gosto: o mundo estaria cheio de esperança porque, finalmente, o dirigente cubano Raúl Castro, do alto de sua importância, resolveu dialogar "francamente, sem intermediários e em igualdade de condições", com o novo presidente norte-americano, Barack Obama. Brincadeira tem hora, e isso não é hora de brincar. Difícil ver igualdade entre o futuro presidente do país que (apesar da crise) detém a maior economia do mundo e o ditador que representa um carcomido regime vigente há 50 anos, numa republiqueta que serviu de títere aos soviéticos na época da guerra fria, e hoje vive órfã, atrasadíssima e ainda oprime seu povo. Só a historia será capaz de aferir se a ditadura castrista levou alguma vantagem a Cuba e seu povo em relação aos governantes por ela derrubados. Mas já é certo que naufragaram suas tentativas e sonhos de exportar a "revolución" para a América Latina e a África. Conseguiu apenas cindir as lideranças nascentes nos países onde atuou, mas não foi além. Com o aporte financeiro da hoje inexistente União Soviética, os cubanos excretaram ideologia e terrorismo, treinaram militarmente mercenários e dissidentes e mexeram, inclusive, com a vaidade dos militantes, levando-os a um raciocínio e palavreado próprios e a adotar a até barba dos líderes cubanos. Certo que muitos, pela sua constituição física, só conseguiram semelhança com João Bafo de Onça, o contumaz vilão dos quadrinhos infantis. Nada ganharam, mas provocaram prisões, mortes e muito sofrimento. Cinquentenária e com o seu líder próximo do fim, a Revolução Cubana precisa encontrar seu rumo. Apesar de blefar, Raúl Castro sabe disso e vai aproveitar os novos tempos dos EUA para negociar o fim ou o abrandamento do bloqueio que, apesar das vistas grossas dos últimos tempos, ainda mantém Cuba isolada. Será uma tarefa árdua e extremamente delicada, pois a maioria dos oprimidos pelo seu regime hoje vive em território norte-americano e foi peça importante na eleição de Obama. Pode acontecer forte pressão pelo afastamento da troupe dos Castro e a redemocratização da ilha. Isso, no entanto, é problema interno deles. Só vamos assistir. O que tem de acabar, inclusive no Brasil, é o culto aos fracassados. Muitos daqueles que na juventude acalentaram o sonho socialista cubano, hoje, graças às bandeiras do passado, estão confortavelmente instalados em posições capitalistas e vivendo nababescamente, até com o dinheiro do povo. É chegada a hora de promoverem uma sincera autocrítica e abandonar os cacoetes ideológicos e revolucionários que já não lhes ornam mais. Ver Cuba apenas como um país-laboratório onde a experiência e a aventura não deram certo e o povo, por isso, sofre. Se puderem, de suas boas posições atuais, contribuam para que o povo cubano encontre a liberdade e a solução para seus problemas! Embora certa hegemonia seja natural, especialmente num mundo dividido em blocos, está definitivamente provado que, o progresso e o bem-estar do povo, não se constrói com a opressão e nem com a exportação ou importação de ideologias e modelos prontos. Todos que assim tentaram, fracassaram. Cuba é apenas o exemplo atual. O sonho... acabou. É hora de acordar... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|