Numa chuvosa manhã de sábado na bucólica Itaipava (RJ), as cambaxirras não estão cantando maviosamente como em saudosos dias primaveris, nem delicadas borboletas brancas flanando em fundo de céu azul; mas, mesmo assim, abro o jornal e leio a seguinte notinha relegada a um canto esquerdo e obscuro do noticioso: Comunismo no museu Vereadores aprovam projeto O sonho do Partido Popular Socialista (PPS) de ter um espaço para contar a história da imprensa comunista no Brasil virou realidade. A Câmara dos Vereadores do Rio aprovou um projeto que cria o Museu da Imprensa Comunista. Ele será instalado num casarão da Gamboa comprado pelo Partido Comunista Brasileiro em 1950 e transformado em gráfica, onde eram impressos [ilegalmente e com o ouro de Moscou] jornais, livros e outros materiais [subversivos] do movimento comunista. Para restaurá-lo, a Fundação Astrojildo Pereira, com apoio da Prefeitura, fará campanha nacional. O objetivo é angariar recursos e buscar parcerias [Com quem? Com a iniciativa privada?!] para a elaboração do projeto e revitalização do local. (O Globo, 27/12/2008). Breve Comentário: Como se trata de uma vexata quaestio nem todos aplaudiram essa medida de nossos preclaros vereadores. Os protestadores – protestantes são outra coisa! - assim o fizeram pelas mais diferentes razões: Alguns alegaram que se trata de mais uma despesa pública perfeitamente evitável, principalmente em tempos de crise econômica global. Já não basta os vereadores quererem aumento de 60%, já não basta os senadores quererem aumentar o número de vereadores nos 6.000 municípios do País, a maioria dos mesmos indigentes de pires na mão e totalmente dependentes do Fundo de Participação dos Estados e Municípios?! Outros alegaram que a referida medida é redundante. Para que fazer um Museu do Comunismo no Rio quando todo o mundo sabe – até mesmo o Lulla que nada e de nada sabe – que já existe um ao vivo em Havana e pronto para receber - brevemente, com a exigida pompa e circunstância - El Coma Andante devidamente embalsamado. Apêndice I: Você sabia? Pode parecer mentira, mas garanto que não é: o Rio de Janeiro tem mais museus do que Nova Iorque, Londres ou Paris! Mas nada que se compare ao Gugenheim ou ao British Museum. São museus de quinquilharias, bugigangas e esquisitices exatamente como aquele que o saudoso Bussunda e a Turma do Casseta, com genial veia satirizante, abriram na Rua Paulino Fernandes (Botafogo, Rio): o Museu da Babaquice. Como se explica isso? Irrefreável paixão pela breguice, falta do que fazer, coisa somente para mostrar serviço? Não, tal coisa não é de nenhum modo irracional ou fora de propósito. Os museus são cabidões de emprego a serviço de deslavado empreguismo dos políticos. Alguns abrem de manhã e fecham ao anoitecer sem receber um único visitante. Não pense o amigo que este será o caso do Museu do Comunismo, pois este mesmo receberá milhares de visitantes movidos a desconhecimento histórico e esquerdopatia aguda. Mas eles só terão um problema: poderão entrar, porém correrão o risco de não conseguir sair por serem considerados raras peças de museu. Apêndice II: Sugestão para criação de outro museu Uma vez que os sábios e competentes vereadores do Rio de Janeiro aprovaram a criação de um Museu do Comunismo, sugiro que os não menos sábios e competentes deputados na Ilha da Fantasia (i.e. Brasília, para os que ainda não sabem) criem o Museu do Mercosul. Posso mesmo fazer uma doação de quatro ilustres múmias para o mesmo, a saber: as de Primevo Inmorales, Hugorila Chávez, Correa Solta e Lugo Azul de Ipacaray. Nota do Editor: Mario Guerreiro (xerxes39@gmail.com) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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