Os principais jornais deram destaque na quinta-feira (8/1) à notícia da prisão de uma quadrilha que se especializou em falsificar autorizações judiciais para produzir a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico de empresários e personalidades. Pelo menos um político, o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, José Aníbal, está entre as vítimas. A quadrilha era chefiada pelos donos de duas agências de detetives particulares e envolvia funcionários de bancos e de empresas de telefonia, além de cinco policiais civis e um coronel da reserva da Polícia Militar. O grupo produzia mandados falsos para a quebra do sigilo e os encaminhava a empresas de telefonia. No caso dos bancos, simplesmente pagavam propinas a funcionários, que lhes entregavam extratos bancários das pessoas espionadas. Na maior parte dos casos, segundo os jornais, o contratante estava interessado em espionagem industrial ou tratava-se da clássica e anedótica suspeita de infidelidade conjugal. De qualquer forma, mesmo tratando-se de crime comum e corriqueiro, o fato interessou aos integrantes da CPI do Grampo, que há meses vêm tentando dar consistência à tese de que vivemos em um estado policialesco, todos vigiados ininterruptamente como no romance 1984, do britânico George Orwell. Artifícios ilegais Os parlamentares não andam longe da verdade. De fato, é fácil constatar que os cidadãos brasileiros estão sujeitos constantemente à perda da privacidade. Só na edição de quinta-feira (8) da Folha de S.Paulo, há seis anúncios de agências de detetives que prometem desvelar tudo que seus clientes desejem conhecer. Além disso, uma notícia na coluna de negócios da mesma Folha informa que uma empresa de informática está apostando alto num programa de computador que vasculha a privacidade de candidatos a empregos domésticos, revelando dados judiciais, trabalhistas, financeiros e criminais, além de produzir uma avaliação psicológica e de saúde. Algumas dessas informações são públicas, outras são protegidas pela Constituição. Grandes empresas costumam bisbilhotar a vida de candidatos a cargos de confiança com o uso de artifícios tão ilegais e inconstitucionais como os que são relatados hoje pela imprensa. A quadrilha apanhada pela polícia é apenas um bando de amadores.
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