No dia primeiro de janeiro entraram em vigor as novas normas estipuladas pela reforma ortográfica da língua portuguesa. A reforma tem o objetivo de padronizar a língua nos países lusófonos, mas na verdade vai complicar mais o que já era complicado. E quem já se desdobrou para decorar algumas regrinhas chatas vai ter que jogá-las por terra e memorizar outras regrinhas chatas no lugar. Não sou professor de português, então nem vou me preocupar em defender ou atacar a praticidade da reforma, mas atesto aqui que vou sentir falta de algumas regras antigas. Pelo fato de já conhecer bem o lugar dos acentos que vão embora e também por ter em mim um tantinho do típico conservadorismo mineiro, eu acho uma péssima idéia promover esse monte de mudanças. Aliás, na minha concepção idéia boa tem acento, mas perdeu depois da reforma, vai virar uma ideia fuleira mesmo. Vão derrubar também o circunflexo do ditongo "ôo". Já imaginou embarcar num avião que alça vôo sem o chapeuzinho? Aposto que vou me contorcer no assento da aeronave a cada vez que lembrar que falta algo importante no meu voo. PELO AMOR DE DEUS, AVISEM O PILOTO, O ACENTO ACABA DE CAIR!!!! Outro que não é acento, mas também deu adeus é o trema. Tudo bem que é um recurso que nunca agradou muita gente e que sempre esteve na corda-bamba, mas só de pensar que vão matar o coitadinho só porque muita gente não ia com a cara dele me faz tremer. E por falar em corda-bamba, uma das regras mais complicadas é a do hífen. Umas palavras que têm hífen vão perder, outras que não têm vão ganhar e eu só não vou lançar mais argumentos sobre essa questão porque se o hífen já não fazia muito sentido antes, agora faz muito menos. Por falar nisso, corda-bamba tem mesmo hífen? Outras muitas palavras vão sofrer por conta da reforma ortográfica. Assim como vão sofrer muitos letrados que já tinham intimidade com a língua portuguesa e com as regras antigas. Tem gente com tanta bronca que implica até com o "K", o "W" e o "Y", as três letras já bastante conhecidas pelos brasileiros, mas que serão oficialmente incorporadas ao alfabeto. Conheço até um jornalista que, em protesto, parou de comer Kiwi, não bebe nem mais uma gota de whisky e desistiu de fazer ioga. Falei para ele que a grafia de ioga era com "i", mas na falta de uma palavra melhor para alavancar o protesto ele sacrificou essa mesmo. Já eu não vou chegar a tal extremo. Tenho minhas broncas em relação à reforma ortográfica, mas como é lei, o jeito e aceitar e me adaptar. O ponto mais negativo de todos não é nem ter que me debruçar novamente sobre a gramática para me habituar com as novas regras e sim o que os meus netinhos vão pensar daqui a alguns anos. Assim como nós, que vez ou outra achamos tão antigo o português que se escrevia na época de Machado de Assis, eles hão de gargalhar bastante e fazer troça. "Olha como o vovô é velho. Ele escrevia idéia com acento e usava um treco chamado trema". Só espero que eu leve também um pouco do respeito que tem o Machado hoje em dia, mesmo com aquele português cheio de acentos mortos. Nota do Editor: Guilherme Brasil é jornalista.
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