O Programa de Saúde da Família, PSF, merece crédito quando analisado somente pela boa intenção de sua proposta conceitual. No entanto, a prática demonstra que está muito longe de atender os seus objetivos. Conta com mais de 40 mil equipes distribuídas pelo Brasil e gasta cerca de R$ 4 bilhões ao ano, sem apresentar resolutividade no mínimo condizente com o investimento; aliás, deixando muito a desejar. Precisamos urgentemente repensar o PSF, pois, com a atual concepção, está fadado a seguir sendo apenas uma política de governo eleitoreira. Hoje, é inviável nos grandes centros devido à densidade demográfica e à falta de estrutura para uma assistência razoável no casa-a-casa. Nas regiões afastadas, então, é mais inviável ainda, já que sofrem com carência de absolutamente tudo, desde equipamentos até profissionais. Para ter uma resolutividade adequada, uma equipe de saúde dentro dos princípios éticos precisa de um pediatra, um tocoginecologista, um clínico e um cirurgião, além dos demais profissionais de saúde. Também tem de contar, no mínimo, com recursos materiais que colaborem para diagnósticos precisos. O PSF não possui estrutura condizente nem com as necessidades mais básicas dos cidadãos no atendimento à saúde. Como diz o ditado popular, de boas intenções o inferno está cheio. O PSF em seus moldes atuais tende a enchê-lo ainda mais. Suas falhas passam pelo baixo grau de comprometimento de boa parte das equipes com a população, pela formação superficial, entre outros pontos. Enfim, virou um cabide de empregos para recém-formados em medicina e para médicos que buscam mais um bico para reforçar a renda. Não há, portanto, a fixação dos médicos ao programa nem a proposta de um plano de carreira. A única motivação para os profissionais é uma remuneração um pouco maior do que a do Sistema Unido de Saúde. O PSF é mais uma face obscura de um governo que não tem política de saúde. É esse o motivo que coloca o Brasil com índices vergonhosos de hanseníase, tuberculose, febre amarela, dengue e leishmaniose. Aliás, é o líder mundial em hanseníase. Enquanto a saúde estiver nas mãos de bacharéis em medicina e de não-médicos, como ocorre na Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, a situação só tende a piorar. Afinal, são tecnocratas que só conhecem a medicina à distância, da janela de seus luxuosos gabinetes. Medicina tem de ser exercida e gerida por médicos. O Programa Saúde da Família, para quem conhece os princípios básicos do exercício da medicina, mais representa riscos à comunidade do que benefício. Nota do Editor: Prof. Dr. Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
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