A deflagração de greves e manifestações por todo o país é a forma escolhida pelas centrais sindicais para protestar e tentar barrar as demissões de trabalhadores já em curso em vários setores da economia. Se o movimento realmente for deflagrado, estará criada uma crise que todos sabemos como começa mas ninguém pode prever como termina. Para o bem da economia nacional, todos os setores representativos da sociedade deveriam estar mobilizados para evitar o confronto que não interessa a ninguém. Os trabalhadores só vão recorrer à greve porque não possuem outro instrumento para fazer frente à onda de demissões. O empresariado demite porque não têm de onde tirar dinheiro para sustentar a massa de trabalho com seus produtos encalhados nas prateleiras e pátios. O governo, com seu perfil de voraz arrecadador, em vez de desonerar, escolhe a contramão ao sobretaxar os processos de demissão em vez de incentivar a manutenção do emprego com a desoneração tributária. Está na hora de cada uma das partes ceder um pouco - dentro das mais consagradas regras de negociação - para encontrarem uma forma de todos, unidos, atravessarem sem agravar o momento mundial de tormenta econômica. O empresariado tem de reputar bem a mão-de-obra que forma seus quadros, o trabalhador tem de respeitar a empresa que lhe oferece oportunidade de trabalho e o governo, em todas as suas instâncias, tem o dever de criar condições para que o capital e o trabalho convivam harmônicos e, com isso, toda a sociedade seja beneficiada. O presidente Lula e todos os seus companheiros ex-sindicalistas que hoje se encontram no poder têm de ser sensíveis aos apelos de empresários e trabalhadores e pilotar com a devida eficiência, meios de alavancar o setor produtivo nesses tempos em que a ressaca da crise eclodida nos EUA chega por aqui. Pelas características da economia brasileira, não precisa investir o dinheiro público nas empresas e bancos, como fez o governo norte-americano. Mas tornar mais leve o fardo tributário é inevitável, ainda que as medidas tenham prazo limitado ao tempo da crise aguda. Para que o espirro do hemisfério norte não cheque aqui como pneumonia - como exemplificou o próprio presidente da República - os governos federal, estadual e municipal tem de fazer sua parte. Não podem ficar de braços cruzados vendo a briga de empresários e trabalhadores como se isso não fizesse parte do interesse oficial. Antes que as demissões e as greves comecem a pipocar, há que se construir um grande pacto nacional de salvação da economia e do emprego. Fixar um período de 60, 90, 120 ou 180 dias onde não hajam demissões de motivação econômica. Isso pode parecer utópico, mas daria um fôlego para o Brasil enfrentar a crise internacional sem o sofrimento do povo nem a dilapidação do patrimônio econômico nacional. É um obra de união nacional, que tem de envolver com seriedade todos os setores pois, do contrário, pode fracassar... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
|