O que leva as pessoas a essa busca constante pelo imaginário mundo da internet?
Com o avanço da tecnologia, as pessoas estão cada vez mais conectadas à internet, seja por meio de salas de bate-papo, blogs, fotoblogs, sites de relacionamento ou e-mails; todos os tipos e formas de comunicação virtual. A internet foi criada para facilitar a vida das pessoas, agilizar o processo de comunicação, e com isso, trazer uma qualidade de vida maior para os indivíduos. Pois, ter acesso ao maior número de informações em muito menos tempo, teoricamente significa ter um período maior no dia-a-dia para entretenimento e lazer. Entretanto, essa modernização invade a vida das pessoas sem pedir licença e o acesso a internet acaba se tornando uma necessidade, pois estudos mostram que a quantidade de horas à frente de um computador está crescendo a cada dia. Então, é chegada a hora de se fazer alguns questionamentos sobre essa evolução. O que isso trouxe de benefícios a sua vida e até que ponto pode ser um malefício? Para muitos a internet já se tornou um vício. Pesquisas relatam que desde 2005, o Brasil se posiciona em primeiro lugar em todo o mundo, no ranking do país que gasta o maior tempo conectado. Isso revela que a internet passou de um meio de informação ou mesmo um hobby, para um veículo essencial na vida das pessoas. Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo IBOPE, nos primeiros meses de 2008, aproximadamente 42 milhões de pessoas, com idade entre 16 anos ou mais, declararam ter acesso à web de alguma forma, seja de casa, do trabalho, da escola, do cyber-café ou até pelo celular. Pois os recursos disponíveis na internet levam milhões de pessoas às salas de bate-papo, chats e sites de relacionamento como Orkut, MySpace, Facebook, MSN entre outros, os quais, possibilitam um contato fascinante com um universo que excede o mundo individual. Ou seja, um espaço virtual, com acesso a culturas, pessoas e informações de todos os lugares do mundo. Mas, num universo tão grande, há espaço também para a imaginação. No meio de tanta fantasia, emoção, pensamentos e palavras, mentiras e verdades podem ser ditas por uma pessoa criada virtualmente por qualquer um. No entanto, a psicoterapeuta e diretora do Instituto de Psicoterapia Avançada AMO Maura de Albanesi, explica que esse avanço tecnológico que estamos vivendo tem ultrapassado limites, pois as pessoas estão cada vez mais fechadas aos sentimentos e vivem de acordo com esse modelo padrão, criado pelo atual mundo globalizado, que impõe para os indivíduos atitudes cada vez mais racionais. Desta forma, o número de pessoas cada dia mais solitárias aumenta, de maneira que, o medo de se expor, de errar, da decepção e intimidade, conduzem-nas a procurar esse tipo de relacionamento, onde ficam escondidas por detrás de uma máquina e podem falar mais de si, sem correr o risco de se expor. "As pessoas confiam mais na internet porque é uma maneira de dar vazão a emoção, sem correr riscos. Atualmente, vivemos em uma sociedade, na qual o sentimento não é bem-vindo, pois significa fragilidade, e o "segredo" de uma pessoa de sucesso é aquele que impulsiona a ação pela razão, que desbrava os obstáculos e conquista seu espaço. Já a pessoa que realmente expõe quem é, age movida pelo fator emocional, e que muitas vezes demonstra ser vulnerável, é considerada frágil, indefesa e sem voz ativa na sua vida. Porém, o que realmente acontece é o contrário; pois, só uma pessoa de atitudes firmes, que sabe o que quer na vida, é capaz de assumir seus sentimentos, sem se esconder atrás de uma máquina", diz a psicoterapeuta. Muitas vezes, o mundo imaginário criado por meio da web, faz com que as pessoas idealizem características do seu contato virtual, e quando se deparam com a realidade, não gostam do que vêem. A máquina separa o real do virtual, e nesse contexto, a pessoa não está inteira para o outro. Pode-se considerar que apenas 20% dela está presente nesse contato. "Diferente do que acontece cara a cara, quando você não consegue esconder quem realmente é, pois está ali, de frente com o outro, e a reação é natural e instantânea, porque você não possui aquele tempo para pensar e agir, como acontece na relação virtual", comenta Maura. "Esse tipo de relacionamento pode se tornar um vício, pois é a maneira mais fácil e cômoda das pessoas lidarem com o sentimento, sem se revelar. Na internet, deixam a emoção aflorar, então se envolvem, falam, riem e choram; o que pessoalmente não têm coragem de demonstrar. É o momento de intimidade com ela mesma", explica a psicoterapeuta. Mas, há meios de se livrar desse vício. Com a ajuda de um terapeuta, o mecanismo de defesa vai se diluindo, enquanto que a confiança em si mesmo e a exposição pessoal aumentam. Quando se torna um vício Quando pensamos em vício, logo passa pela cabeça os mais comuns: drogas, cigarro e álcool, mas assim como todos esses, a internet também se enquadra nesse parâmetro. Pois, aquelas pessoas viciadas em internet, são consideradas dependentes comportamentais, que, se não forem tratadas, podem até ter que conviver com danos físicos e emocionais. A psicoterapeuta Maura de Albanesi revela algumas dicas para você se auto-avaliar em relação a esse vício. · O tempo que você fica conectado começa a comprometer sua vida social e profissional, você perde o interesse em atividades que sejam off-line; · O viciado fica constantemente preocupado com a internet quando não está conectado e não consegue pensar em outra coisa; · O indivíduo tem a necessidade de utilizar a internet, abordando sentimentos de angústia e impotência por estar longe de um computador; · Irrita-se facilmente quando não consegue estar on-line ou quando alguém tenta reduzir seu tempo na internet; · Utiliza a web como forma de fugir dos problemas e aliviar o sentimento de impotência; · O uso constante do computador causa problemas nas articulações motoras, como por exemplo, a LER - lesões por esforços repetitivos, insônia etc. "Todas estas características comprometem a vida do indivíduo viciado por internet. Pois eles acreditam que, para viver é necessário estar conectado, no entanto, é aí que se enganam, porque é neste exato momento, ao se conectar com o mundo, que se desconectam do seu próprio ser", completa Maura. A psicologia, ciência que estuda os processos mentais e comportamentais do ser humano, revela que o verdadeiro equilíbrio de um indivíduo é estar em harmonia com três sentidos: sentir, pensar e agir. Conclusão, a internet por si só não é viciante, mas a oportunidade que ela oferece aos usuários representa algo significativo no desenvolvimento do “vício”. Portanto, vale usar e abusar do conteúdo disponível na web dos quatro cantos do planeta. Mas, cuidado para não acabar viciando e se perdendo, em meio ao alucinante mundo virtual. Nota do Editor: Maura de Albanesi (www.mauradealbanesi.com.br) é psicoterapeuta, pós-graduada em Psicoterapia Corporal, Terapia de Vivências Passadas (TVP), Terapia Artística, Psicoterapia Transpessoal e Formação Biográfica Antroposófica; Master Pratictioner em Neurolinguística; e mestranda em Psicologia e Religião pela PUC. Diretora do Instituto de Psicoterapia Avançada AMO.
|