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Crônicas
23/01/2009 - 17h05
As antigas máquinas de escrever notícias
Seu Pedro
 

Quando iniciei no jornalismo nem diploma para ele havia. Foi em 1965, eu tinha 18 anos. Foi no Jornal do Commércio, de Manaus, e a redação usava as máquinas "Léxicon 80" da Remigton Rand, fabricadas no Rio de Janeiro, na Avenida Brasil, bairro de Guadalupe. Como hoje temos que dominar conhecimento sobre as ferramentas do computador, o redator-chefe daquela época nos exigia conhecer cada tecla e sua função, e os parafusos de uma máquina de datilografar. Estávamos sempre prontos para solucionar eventuais problemas que pudessem aparecer, como se fossemos mecanógrafos.

Nunca aconteciam problemas, mas sabíamos tudo, até em qual lixeira iam parar as tampas boleadas das máquinas, uma vez que preferíamos teclar sem elas para que mais rapidamente pudéssemos enrolar de volta os carretéis das fitas, com o “carinho” que dispensamos aos equipamentos, embora conseguíssemos reduzir seu tempo útil. Para mostrar que eu dominava por completo, como era vontade do chefe, até decorei o endereço da fábrica da Remigton.

Escrevíamos o texto por encomenda de tamanho; tantas linhas x tantos toques (normalmente 72). As fitas "acabavam no fim", rasgadas de tanto receberem as pancadas das teclas. Não fazíamos revisão no texto, isto era tarefa do revisor. Se houvesse erro na edição a culpa estava somente com ele. Não importava se fossemos datilógrafos de fazer sair “fumaça” do teclado ou se “catadores de milho”, mas que déssemos conta de nossa pauta. A redação sim tinha que ser boa, com respostas precisas aos seis itens indispensáveis a uma boa notícia; “o que, quem, onde, quando, como, por quê?”

Assim quem soubesse teclar a máquina, tivesse a verve jornalística, soubesse ordenar um texto, investigar com lisura os fatos, assumisse suas responsabilidades, e tivesse ética acima de tudo, era jornalista diplomado na vida diária de uma redação; sem dificuldades. Não nos importávamos com diplomas, apenas com o registro profissional que nos habilitava ao exercício da profissão. Não tínhamos o Manual de Redação e Estilo, mas procurávamos sempre acompanhar o estilo adotado pelo patrão, neste caso o da empresa “Diários Associados”.

Usávamos a entrelinha espaço 03, para que o revisor pudesse escrever o correto acima de nossos erros, que procurávamos evitar. Mas se acontecessem, não ficávamos envergonhados. Os jornais tinham melhor qualidade em seus textos, eram até mais gostosos de serem lidos. Já não existe o tom literário, não há mais as entrelinhas que criavam o estilo pessoal de cada redator. Não era como a maioria dos jornais de hoje. Usam o método “copiar colar”. Ficam todos iguais. Quem lê um leu todos.

Tenho saudades, pois na redação só os que passavam do primeiro mês, e por si se “diplomassem” naquele curto espaço de tempo, é que ficavam. Os aptos, mesmo sem diplomas, eram respeitados e participavam das altas rodas. Eram “cordialmente detestados”. Uma época em que mandava o governo militar de exceção.

Eu era obediente às ordens emanadas do Quartel-General. Naqueles anos, Dom Élder Câmara, alcunhado pelo governo de “Arcebispo Vermelho”, tinha o nome proibido de ser citado em notícias. Então eu o chamava de “Arcebispo Verde e Amarelo”, o que fazia com que os censores ficassem vermelhos de raiva.


Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

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