A decisão do Banco Central de reduzir em 1% a taxa de juros foi festejada pelo mercado e até pelos bancos. Com essa medida, o governo começa a mostrar sua determinação de encarar firmemente a crise, Mas ainda é pouco. Apesar do oportuno corte, o Brasil, infelizmente, por falta de uma política econômica sustentada e mais abrangente, ainda continua como o líder mundial dos juros altos, seguido por Hungria e Argentina. É preciso cortar ainda mais e tirar o país desse inconveniente patamar da exploração do empreendedor, que precisa tomar o capital alheio para produzir ou realizar seus negócios. O governo deveria, ao lado de reduzir os juros, diminuir os empréstimos compulsórios e os impostos que, na contramão, drenam recursos da economia e da produção para os suspeitos cofres estatais. A anunciada e inadiável flexibilização da política econômica, neste momento, tem de vir agregada a ações de proteção aos valores do emprego e da produção. Não basta simplesmente reduzir os juros. Há que se criar atrativos eficazes para que as classes produtoras, além de elaborarem suas mercadorias a preços mais competitivos, ainda tenham motivos para não demitir seus empregados. Em vez de sobretaxar as demissões, o governo deveria desonerar e proteger aquele que produz e mantém o nível de emprego. Só assim se manterá a economia em funcionamento e em condições de superar a crise de além-fronteiras. Quando o Banco Central reduz a taxa de juros e diminui os depósitos compulsórios dos bancos, teoricamente coloca mais dinheiro no mercado. Mas, num momento de crise como o atual, essa desoneração não poderá servir apenas para que os bancos se capitalizem e passem mais folgadamente pelo momento difícil, sem dividir o benefício com os outros setores da economia. É necessário que, além de reduzir os juros e as obrigações fiscais, se desenvolva um programa de incentivo que coloque esse quadro de benefícios ao alcance exclusivamente para as empresas que não realizarem demissões em seu quadro de trabalhadores. As crises econômicas exigem esforços e cooperação de todos os segmentos da sociedade. Sofrem os empresários, que veem o desempenho de seus negócios fraquejar, penam os empregados que tem fragilizado o nível de emprego e ficam em desvantagem os consumidores, que acabam pagando mais caro pelos produtos e serviços e nem sempre os tem com boa qualidade. Para fazer frente a tudo isso é imprescindível a participação e as diretrizes do governo, único elo da cadeia capaz de enfrentar as dificuldades e colaborar com os demais. As características da economia nacional - que agrega alto grau de informalidade - fazem o Brasil menos vulnerável às crises internacionais. Quando tudo parece estar perdido, o brasileiro ainda está trabalhando, mesmo que só para garantir a comida. Isso é ruim no aspecto clássico da economia, mas acaba beneficiando o país nos momentos difíceis. Se o governo, neste momento, tiver a sensibilidade de reduzir a sua voracidade arrecadatória, temos tudo para passar a crise sem o sofrimento do trabalhador, aquele que constitui o lado fraco da "corda" da economia. O momento exige sabedoria e decisões rápidas daqueles que tem a missão de governar. Vamos esperar que não se omitam... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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