O mar representa o nosso estado de ser. Quando revoltado, o mar se agita de um lado para o outro e bate nas pedras. As situações mudam o curso da nossa navegação. A vida nos faz marinheiros. Somos levados a dirigir o nosso destino a todo o momento. Quando você suja a sua água, passa a sentir o gosto amargo dela em sua boca, em sua alma, em seu ser, em sua vida. A sujeira possui uma força, assim como a limpeza. Você atribui os significados que você quiser para os conteúdos de sua existência. A falta de clareza sobre os objetivos, a ausência de um foco e a criação de problemas significam que o barco está sem um capitão. É preciso sentar e velejar o seu destino rumo às águas calmas. A carta de navegação é a busca de sua própria natureza, essência, Eu Maior. Enfim, daquilo que preenche toda a sua existência. Ao entrar em seu convés, você começa a entender as ferramentas de sua embarcação e passa a lidar com harmonia e sabedoria com a sua natureza interior e com tudo que lhe é exterior. E, assim, o mar interno se torna sereno, pleno, majestoso. As águas começam a banhar todo o seu ser e a potencializar a sua conatus, a sua força de vida e de existência. O mar bota toda a sua força em suas ações e, assim, você passa a desfrutar da sua grandeza. Você sente a embarcação como parte de você. Ao invés de você ser servo da embarcação, você passa a ser o seu capitão. A embarcação é o Universo. São Francisco de Assis se dispôs a se tornar parte da natureza, dos animais, das plantas, para que, aí, com a presença plena da existência, ele pudesse sentir os tesouros espirituais. Os tesouros espirituais não são acumulados, mas sim conquistados. Quando se sente a água do mar de Deus banhar a alma, se tem a sensação de saciedade e, assim, o estar molhado se torna uma sensação eterna, viva e edificante. O tesouro material passa por nós, tal como as pessoas que estão ao nosso redor. Quem se tornou escravo dos tesouros materiais não tem acesso aos tesouros espirituais. É preciso estar com a alma leve para carregar os tesouros espirituais em seu ser. Os tesouros espirituais são a paz, a alegria, a sabedoria não-domesticada, as sensações de ser autor de sua história e navegante de seus mares. Os tesouros espirituais nos ajudam a enxergar a força dos nossos mares internos. Mares que expressam o infinito dos tempos e da Criação, o poder das substâncias profundas da existência, a celebração do equilíbrio entre os navegantes e os mares. São Francisco se iluminou ao conhecer os tesouros espirituais de Deus. Basta conhecermos o nosso mar para conquistarmos os tesouros espirituais, cheios e completos como o Universo. Nota do Editor: Juliano Luís Pereira Sanches é jornalista, folclorista e poeta de Campinas. Foi repórter de assuntos gerais nos programas Sexta Cultural, Fractal, Jornal da Educativa e Bom Dia Campinas, da Rádio Educativa FM 101.9 (www.campinas.sp.gov.br). Atualmente, é apresentador, repórter e produtor do programa de jornalismo educativo Ponto & Vírgula da Rádio Educativa em parceria com a Secretaria de Educação de Campinas. Colaborador do Portal Sorocult (www.sorocult.com), e colunista do Jornalzen (www.jornalzen.com.br), de Campinas.
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