“Não há erro pior na liderança pública do que alimentar falsas esperanças que logo serão frustradas.” (Winston Churchill) A euforia que tomou conta dos Estados Unidos durante a posse de Obama foi um espetáculo constrangedor e preocupante. Milhões de pessoas idolatrando um único indivíduo, chorando de emoção em homenagem a um político. Trata-se de um sinal dos novos tempos, da era do governo Todo-Poderoso, até mesmo na “terra da liberdade”. O bordão “a esperança venceu o medo” resume a retórica do momento, abraçada por milhões de pessoas apavoradas com a pior crise econômica desde a depressão de 1929. Essa massa de desesperados deposita toda a sua esperança no presidente, visto como um “messias salvador”, um ser sobrenatural que possui o poder da cura para todos os males do mundo. O Deus moderno passou a ser o governo, e o presidente americano é seu novo profeta. Talvez ciente do alerta feito por Churchill na epígrafe acima, o discurso de Obama foi bem mais sóbrio que o esperado, quase um balde de água fria nos mais sonhadores, pregando uma nova era de responsabilidade. Curiosa expressão, usada por aquele que defende as políticas expansionistas do governo como solução para a crise. O governo americano já possui mais de US$ 10 trilhões em dívidas, um déficit fiscal crescente, e um banco central que leva aos limites seu balanço para substituir a função dos bancos comerciais em crise. Soa no mínimo estranho o presidente que assume propondo pacotes bilionários, sem lastro para tanto, falando em responsabilidade. Obama deveria se lembrar de Sêneca, quando este disse: “longo é o caminho ensinado pela teoria; curto e eficaz é o do exemplo”. Se Obama leva a sério seu recado, poderia começar com mais responsabilidade fiscal no próprio governo, anunciando cortes em vez de expansão nos gastos públicos. Infelizmente, os pilares ideológicos dos “pais fundadores” da nação estão cada vez mais abandonados pelos americanos. O próprio culto à presidência demonstra como o país se afastou dos princípios liberais de seus fundadores. Estes enxergavam com enorme desconfiança o governo, visto como um “mal necessário”, cuja função básica era apenas preservar as liberdades e o direito de propriedade privada. Algo muito diferente da imagem que muitos têm do governo atualmente, uma espécie de Deus capaz de criar riqueza num estalo de dedos. Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, Thomas Paine e demais líderes da Revolução Americana jamais teriam defendido tanto poder concentrado em um único homem. A República americana, que no passado soube limitar os poderes do governo, acabou se transformando numa simples democracia popular, uma espécie de “ditadura da maioria”, onde as liberdades individuais ficam totalmente ameaçadas. O Estado, como já havia previsto Bastiat, virou “a ficção através da qual todo mundo se esforça para viver à custa de todo mundo”. No seu livro sobre as multidões, Gustave Le Bon tenta definir o que seria uma massa de pessoas, sob o ponto de vista psicológico. Ele escreve: "Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto". Nelson Rodrigues, com seu poder de síntese, resumiu: “a unanimidade é burra”. Robert Menschel, autor de Markets, Mobs and Mayhem, constatou que as massas desejam ser lideradas, e freqüentemente não ligam muito para onde. O filósofo Ortega y Gasset, em A Rebelião das Massas, também tratou do assunto de forma interessante, descrevendo o “homem massa” como uma típica criança mimada que quer impor seus desejos. São como bóias à deriva, dispostos a depositar poder em quem promete atender tais anseios imediatos. Em resumo, as massas agem por instinto, delegando a responsabilidade para algum líder carismático qualquer. Eis onde reside o perigo! A esperança não venceu o medo: ela foi criada por ele! E em vez dos americanos resolverem enfrentar os duros fatos da realidade atual, eles preferiram sonhar, depositando no governo já inchado o poder de fazer milagres. Todos repetem que Obama vai tirar a nação do atoleiro econômico. Obama é o super-homem! Esquecem que a economia funciona bem quando a “mão invisível” pode funcionar sem tantas amarras. Milhões de indivíduos decidem isoladamente suas ações, e o livre mercado se encarrega de produzir um resultado eficiente. Por outro lado, o dirigismo estatal é o caminho da ineficiência e da servidão. A história está repleta de exemplos para ilustrar isso. Por mais genial que fosse, nenhum ser humano seria capaz de absorver o conhecimento pulverizado na população toda. Basta usar a razão para compreender a lógica disso. Obama e seus aliados são apenas seres humanos, sujeitos às mesmas falhas de todos os outros. Não são oniscientes, tampouco santos dispostos a sacrificar seus interesses particulares em prol do bem-comum. São seres humanos, demasiado humanos. E nenhum ser humano deveria concentrar tanto poder assim. Mas as multidões não querem saber disso. Elas não desejam refletir sobre tais argumentos racionais. Elas estão com medo, e precisam abraçar cegamente a esperança de que Obama irá solucionar todos os problemas, ainda que isso seja claramente falso. Vivemos na era da esperança. E como Baltazar Gracian disse, “a esperança é a grande falsária da verdade”. Nota do Editor: Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfólio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog (rodrigoconstantino.blogspot.com) para a divulgação de seus artigos.
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