Na edição da semana passada, a revista Veja afirmou, em reportagem e editorial, que o ministro da Justiça Tarso Genro estava certo ao rejeitar o pedido de extradição do cidadão italiano Cesare Battisti, condenado em seu país por atividades terroristas. Dizia a revista, justificando a medida do governo brasileiro, que Battisti havia sofrido um julgamento irregular, tendo sido condenado com base nas afirmações de apenas um acusador, que deveria ser colocado sob suspeita por haver se beneficiado de acordo de delação. O tal acusador, dizia a revista, estava desaparecido e não havia como comprovar a veracidade das denúncias contra Battisti. Tanto na reportagem como no editorial, Veja opinava que o ministro da Justiça do Brasil deveria usar o mesmo critério quando estivesse em julgamento não um militante de esquerda, mas alguém com o perfil ideológico oposto. Na edição desta semana, Veja reproduz informações colhidas do acusador de Battisti, publicadas pela revista italiana Panorama, na qual são reforçadas as alegações das autoridades italianas, segundo as quais o ex-terrorista teve amplas condições de defesa e seu julgamento foi correto. Ponto para Veja, por sua determinação de continuar perseguindo o tema, acrescentando os dados que se tornaram disponíveis nos dias seguintes. Informações limpas Mas a controvérsia não se esgota neste ponto. Tanto no caso de Cesare Battisti como em quaisquer outros temas em que a interpretação depende em parte dos pendores ideológicos de quem opina, o que temos visto na imprensa brasileira é a contaminação da questão central pelo viés ideológico. Esse é um fenômeno que vem afetando a capacidade de interpretação dos principais órgãos da imprensa brasileira há alguns anos. Até mesmo a operação policial que resultou no pacote de acusações contra o banqueiro Daniel Dantas, que trata essencialmente de crimes financeiros, fraudes contra o Tesouro, e de crimes comuns, como falsidade ideológica e quebra de privacidade, virou objeto de disputa política no sentido mais rasteiro. Altas autoridades da República, como ministros de Estado e representantes da mais alta corte de Justiça, disputam espaços na imprensa, atiçando um debate que nunca chega ao ponto central. O leitor que ainda pretende observar o mundo com objetividade tem cada vez mais trabalho para buscar informações limpas, que não estejam contaminadas na origem.
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