A Gazeta Mercantil publica na primeira página da edição de quarta-feira (28/1) a reprodução de uma reportagem curiosa do jornal britânico The Guardian sobre a crise financeira internacional. O texto, que foi praticamente ignorado pela chamada grande imprensa brasileira, traz o resultado de uma pesquisa sobre os vinte e cinco principais responsáveis pela crise financeira que abala o mercado global. Entre investidores, governantes e ex-governantes, autoridades monetárias dos Estados Unidos e da Inglaterra, destacam-se banqueiros e executivos de Wall Street. Não há qualquer citação às responsabilidades da própria imprensa. Se, entre os critérios para julgar as responsabilidades, foi incluída a omissão, como no caso das autoridades que acompanhavam o crescimento explosivo dos investimentos em fundos sem lastro, os jornais deveriam se incluir entre os culpados. Se pretende apresentar-se como fonte credenciada para a formação de opiniões e a tomada de decisões de seus públicos, a imprensa também precisa assumir, como contrapartida, o risco dos diagnósticos mal formulados e dos climas emocionais que o noticiário produz. Afinal, quem toca o berrante produz o chamado efeito-manada nos mercados? Boa pergunta Se a imprensa não deu repercussão à pesquisa sobre os culpados pela eclosão da crise, pelo menos os jornais de quarta-feira (28) apontam alguns dos responsáveis pelas dificuldades em reduzir os seus efeitos, ao menos no Brasil. Está nas primeiras páginas dos principais diários: os bancos brasileiros aumentaram pela sexta vez seguida o spread cobrado nas operações de crédito. O spread é a diferença entre o custo do dinheiro captado pelo banco e o valor que cobra para emprestar a seus clientes. O sistema financeiro foi beneficiado por um pacote de medidas recentes do governo, mas não repassou esse benefício aos clientes. Pelo contrário: os bancos estão aproveitando a crise para rechear seus cofres e reduzir seus próprios riscos, transferindo-os para a clientela. A imprensa noticiou na quarta-feira os dados divulgados pelo Banco Central, mas, curiosamente, não se localizam editoriais e artigos indignados contra a atitude dos bancos, como acontece normalmente quando os jornais discordam de decisões do governo. Por que será?
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