Falta de disciplinamento e cultura da impontualidade prejudicam transportadores brasileiros
Em todas as viagens que fiz por esse mundo afora, conheci transportadores e carreteiros dos mais diferentes países; mas, até agora, não vi em nenhum outro lugar motoristas e empresários como os do Brasil. Mesmo com todas as "lombadas" impostas à nossa frente, sejam elas a má infra-estrutura ou as leis que regulamentam de forma branda o Transporte Rodoviário de Cargas, conseguimos todas as vezes superar os obstáculos. E é por esse motivo que somos muito mais versáteis e criativos que os profissionais do primeiro mundo, acostumados com estradas em ótimo estado de conservação e com a pontualidade em toda a cadeia de abastecimento e produção. Quem atua no Brasil sabe das dificuldades que enfrentamos: o mau disciplinamento do setor e uma profunda cultura de não cumprimento de prazos. Sem contar a idade de alguns veículos que circulam por aí, que chegam a 20, 25, e até 30 anos de idade. Mas mesmo com os resultados excepcionais alcançados por nós a despeito de todas as dificuldades, o lucro que obtemos com o frete é inferior ao dos transportadores europeus, que além de tudo têm gastos menores; uma situação que pode ser mudada por meio de duas ações de valorização do segmento: o disciplinamento do TRC e uma mudança na cultura do setor. Como bem sabemos, o povo brasileiro não é dos mais pontuais. Quando marcamos uma reunião ou vamos a um evento, paira sempre a certeza de que eles começarão só depois da hora marcada. Entretanto, tempo é dinheiro, e esperar horas e horas numa fila para carregar ou descarregar mercadorias, como é o nosso caso, tem um forte impacto sobre os custos, tanto do caminhoneiro quanto do empresário. Para resolver isso, são necessárias leis mais rigorosas. No ano passado, conseguimos emplacar a lei 11.442/2007, que regulamenta o setor e estabelece o tempo mínimo de cinco horas para embarque e desembarque de mercadorias. A princípio, uma boa iniciativa, mas que foi "anulada" por outra lei, a 11.524/2007, que sacramenta o tempo de embarque e desembarque de produtos conforme acordado entre as duas partes da operação, o que pôs abaixo o tempo limite estabelecido anteriormente. E isso não é tudo: o problema dos caminhões extremamente antigos que ainda circulam no Brasil é gravíssimo, pois embora as velhas carretas representem 15% da frota circulante no Brasil, elas são responsáveis por 60% das perdas financeiras dos transportadores, e estão diretamente envolvidas nas mortes de trânsito no país. Em 2007, um levantamento do Ministério da Saúde apontou que elas chegaram a uma média anual de 35 mil, o equivalente a um acidente como o do Airbus da TAM, que matou 199 pessoas no mesmo ano, a cada dois dias. Mas esses dois pontos podem ser mudados se forem acatados tanto um programa de incentivo para a renovação da frota, como é o caso do Emplaca Brasil, em que o proprietário de um veículo antigo pode trocá-lo por bônus para a compra de um novo; quanto a criação do prazo de uma hora para embarque e desembarque de mercadorias, com sérias multas para quem desacatá-lo. Assim, o transportador brasileiro terá o retorno que realmente merece. Nota do Editor: Markenson Marques é diretor da Aslog (Associação Brasileira de Logística) e diretor-presidente Cargolift Logística, de Curitiba.
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