Na antiguidade, a vida em abstinência sexual foi vista como uma forma de evitar problemas de saúde. Apesar de ainda hoje podermos encontrar esse tipo de pensamento em algumas culturas, nas últimas décadas, estudos científicos rigorosos não só desmontaram de uma vez por todas o mito de que a atividade sexual pode ser deletéria à saúde, desde que devidamente protegida contra doenças sexualmente transmissíveis, mas também têm revelado que o sexo traz inúmeros benefícios à saúde. Alguns desses estudos acompanharam indivíduos de meia idade e idosos por até 20 anos, e têm sido quase unânimes em mostrar que quanto maior a atividade sexual, menor a mortalidade inclusive por doença isquêmica do coração. É bem reconhecido que uma relação sexual, devido ao esforço físico, pode precipitar hemorragias cerebrais e morte súbita de causa cardíaca em indivíduos predispostos. Entretanto, à luz do conhecimento atual, pode-se dizer que o efeito protetor da atividade sexual é muito maior que os raros eventos precipitados pelo esforço físico. É claro que um indivíduo que tem dor no peito simplesmente por subir dois lances de escada deve discutir com seu cardiologista seu risco em fazer sexo ou qualquer outra atividade física. Outros benefícios do sexo sobre nossa saúde têm sido demonstrados: - Maior concentração de anticorpos do tipo IgA na saliva com o potencial de reduzir o risco de gripes e resfriados; - Maior auto-estima, menos sintomas de ansiedade e depressão e menos queixas de dor e insônia; - Pode ajudar a controlar o peso, mas isso depende da freqüência da atividade sexual. Calcula-se que o gasto energético da atividade sexual seja muito próximo ao ato de caminhar; - Maior regularidade dos ciclos menstruais. A atividade sexual também fortalece a musculatura da pelve podendo reduzir o risco de incontinência urinária com o envelhecimento; - Entre os homens, a atividade sexual regular pode reduzir o risco de câncer de próstata ao reduzir o contato do sêmen "estagnado" com o órgão. A ciência moderna tem-nos mostrado cada vez mais que vida saudável não significa vida sem graça e sem prazer. Álcool com moderação traz mais benefícios à saúde do que a abstinência, e pode-se dizer o mesmo para o sexo seguro. Pessoas que freqüentam atividades como shows de música, teatro e cinema percebem-se mais saudáveis e vivem mais. Não é o caso de se fazer campanhas em prol de um estilo de vida "sexo, drogas e rock’n roll", mas já existem razões de sobra para incorporarmos o prazer como importante medida de promoção à saúde. Nota do Editor: Dr. Ricardo Teixeira é Doutor em Neurologia pela Unicamp. Atualmente, dirige o Instituto do Cérebro de Brasília (ICB) e dedica-se ao jornalismo científico. É também titular do Blog "ConsCiência no Dia-a-Dia" e consultor do Grupo Athena.
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